Portugal enfrenta eleições em fevereiro após anunciada queda de Costa

O actual cenário político não tem precedentes na democracia portuguesa. O Presidente da República nunca aceitou a demissão atrasada de um Primeiro-Ministro. Mas é precisamente isso que ele pretende fazer. Marcelo Rebelo de Sousa. Esta quarta-feira, o chefe de Estado realizou uma ronda de consultas com os diferentes partidos políticos para deixar para trás a crise política que se abriu na terça-feira após a demissão do primeiro-ministro. António Costa, depois de o Ministério Público ter tornado pública uma investigação judicial contra si por alegadas irregularidades relacionadas com concessões de exploração de lítio, um projeto de construção de uma central de hidrogénio e um data center na cidade de Sines. Cinco perfis próximos do líder socialista foram detidos no âmbito de um caso paralelo incluindo o seu chefe de gabinete Vítor Escáriao Ministro da Infraestrutura, João Galambae o empresário Diogo Lacerda Machadoconfidente do primeiro-ministro.

O único deputado do esquerdista Livre, Rui Tavares; o líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua; o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha; o secretário-geral do Partido Comunista, Paulo Raimundo; o presidente do Chega, de extrema-direita, André Ventura; e o presidente do conservador Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro. Além do primeiro-ministro cessante. Todos pediram para ir às eleições, exceto Costa, que colocou na mesa do chefe de Estado o nome de quatro candidatos para o substituir e sorteou as urnas, segundo o jornal. Expresso. Uma lista que incluía Mário Centeno, atual governador do Banco Central português, antigo presidente do Eurogrupo e antigo ministro das Finanças.

Agora, Rebelo de Sousa tem duas opções. Dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas ou, pelo contrário, permitir que o Partido Socialista apresente outro candidato a primeiro-ministro. Os nomes de Fernanda MedinaChefe de Finanças, ou Mariana Vieira da Silva, Ministro da Presidência. Embora nas últimas horas tenha ganhado força como figura de “consenso”, a presidente do Parlamento, Augusto Santos Silvaum veterano que ocupou todos os cargos do Estado.

Este cenário já acontecia em 2004. O então primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, deixou o chefe do Governo para presidir à Comissão Europeia. Um destino que, paradoxalmente, parecia escrito para Costa. O conservador PSD propôs como substituto Pedro Santana Lopes. No entanto, parece improvável que Rebelo de Sousa explore esta via. “A substituição de Durão Barroso já era bastante polémica e o Governo caiu ao fim de seis meses”, explica Manuel Loff, historiador e professor de Estudos Políticos da Universidade do Porto, em conversa telefónica com LA RAZÓN. “É o único precedente e funcionou mal.”

O chefe de Estado já deu pistas sobre qual poderá ser a sua decisão. Na tomada de posse do Governo solo de Costa, em março de 2022, afirmou que uma saída do socialista a meio do mandato levaria à dissolução da Assembleia. Loff considera que o presidente “foi muito claro quando disse que essa maioria absoluta foi obtida com um candidato a primeiro-ministro que era António Costa, que também já governava antes das eleições”. dissolvido.”

Antes, deverá reunir-se com o Conselho de Estado, órgão meramente consultivo da Presidência cujos pronunciamentos não são vinculativos. Rebelo de Sousa telefonou quinta-feira aos seus membros, incluindo o próprio Costa, ainda como primeiro-ministro, uma vez que o presidente não aceitou oficialmente a sua demissão. Após a consulta, ele se dirigirá à nação para anunciar a decisão.

O calendário complica os planos do chefe de Estado. Os Orçamentos Gerais do Estado continuam a ser processados. Portanto, segundo o jornal ObservadorRebelo de Sousa pretende adiar para depois de 29 de novembro a publicação dos decretos de destituição do Governo e de dissolução da Assembleia, mecanismo formal que permitiria a aprovação dos orçamentos de 2024. Ou seja, prolongar por um mês e duas semanas o mandato de Costa para fazer as contas do próximo ano.

A Constituição portuguesa estabelece um prazo mínimo de 55 dias entre a dissolução e a realização de eleições. O presidente tem a última palavra, mas em Portugal decorrem em média três meses entre a demissão e a votação, pelo que as eleições poderão acontecer em Fevereiro. O Partido Socialista, agora sem Costa, que anunciou que não voltará a concorrer, teria tempo para cerrar fileiras.

Isso encerrará a era Costa. O até agora primeiro-ministro despertou amor-ódio na sociedade portuguesa, conta Susana Rogeiro Nina, professora de Ciência Política na Universidade Lusófona, a este jornal. «Na primeira legislatura houve um estado de graça prolongado. Não só porque foi com Costa e a sua política económica que os portugueses recuperaram os rendimentos e a economia cresceu, mas também pela chamada Geringonça e o fascínio pelos acordos de esquerda”, explica Rogeiro. «No segundo/terceiro, porque no segundo o Geringonça Fracassou e houve eleições antecipadas em que o PS obteve maioria absoluta, Costa caiu em desgraça: escândalos com sucessivos ministros, greves no sector público, com médicos e professores, etc.

Calvin Clayton

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