Portugal precisa de saber calibrar a política externa nas relações com o Brasil, diz Luís Amado

A importância da necessidade de “preservar este fardo de confiança, de atenção, da influência de algumas circunstâncias no vasto espaço geopolítico do Sul global”, foi dada numa conferência, em Lisboa, sobre a relação de Portugal com a Europa, a América Latina e África.

“Este é um desafio muito grande que enfrentamos. Em relação ao Brasil, muito em particular”, disse Luís Amado, que falou no último painel do evento promovido pelo Instituto Amaro da Costa.

Para o ex-ministro, com Lula da Silva novamente na Presidência, o Brasil “reafirma agora o seu estatuto de potência emergente que quer ter uma palavra a dizer sobre o mundo”.

“Aspira, com certeza, estar num lugar no Conselho de Segurança no futuro. E apoia muito a relação com Portugal na base do processo de transação entre aquilo que é a política externa portuguesa na relação com o Ocidente, como o cerne das “políticas europeias e transatlânticas, concebidas para se relacionar com a OTAN e constituir uma medida de precaução para preservar uma relação comercial funcional e de apoio com o Brasil”, acrecentou.

Luís Amado falou sobre o significado da relação com o primeiro Governo de Lula da Silva, quando Celso Amorim decidiu assumir o comando das Relações Exteriores, “na medida em que a tensão relativamente ao Ocidente, relativamente à NATO e relativamente à política europeia era permanente, mas sim “Portugal tem de, de facto, assumir as suas posições no âmbito das responsabilidades que lhe cabem no contexto multilateral, europeu e transatlântico”.

“O Brasil é muito sensível a esse gesto diplomático ou político e será cada vez mais difícil quanto mais as tensões piorarem”, disse.

O ex-ministro referiu-se ao “choque de interesses entre o espaço ocidental, o espaço euro-asiático e este vasto espaço geopolítico, que quer preservar os princípios da globalização económica”.

“Porque foi a globalização económica que levou ao poder emergencial do sistema internacional na economia mundial nos últimos 30 anos”, sublinhou.

Ao mesmo tempo, quero “afirmar princípios e valores que não correspondem à matriz de dois princípios e valores que o Ocidente procura projectar no mundo, universalizando, e que, neste momento, tem reorganizar-se internamente em seu próprio espaço”, acrescentou.

“Antes se acreditava que esta dificuldade era talvez a questão mais difícil de resolver no exercício quotidiano da política externa portuguesa, para os embaixadores, que são responsáveis ​​pelo mais alto nível da política externa portuguesa”, disse.

Luís Amado interveio no painel moderado da diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles, e que também falou, como oradores, Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz, ex-embaixador e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e Francisco Ribeiro Telles, ex-embaixador de Portugal em Cabo Verde, Angola e Itália e ex-secretário executivo da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP, de 2019 a 2021), atualmente secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros Português.

Calvin Clayton

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