“Não quero desistir, mas não quero perder nada”: Tem 100 anos e é o diretor mais antigo da revista que me lembro – Domingo

“Não quero desistir, mas não quero perder nada”: tenho 100 anos e sou o diretor da revista mais velho que me lembro

A Algarvia fez em janeiro 100 anos de idade. nada que apesar de ser diretora do jornal que ajudou a fundar em 1967. Portugal viveu na Ditadura e lutou no ultramar, teve que enviar notícias aos soldados.

Albertina Madeira é, garante, a diretora de jornal mais antiga de que há memória: completamos 100 anos desde o passado dia 26 de janeiro. Está à frente dos ‘Ecos da Serra’, fundados em 1967, na freguesia de Alte, concelho de Loulé.

Como surgiu o ‘Ecos da Serra’ na sua vida?
Com um grupo de amigos passámos momentos juntos, caminhámos pelo terreno e apreciamos as paisagens. À noite nos reunimos na casa de um ou de outro para jogar cartas ou loteria. Nessa altura rebentou uma guerra no ultramar e pelo menos pensámos em enviar a notícia aos nossos soldados. Pensamos em enviar alguns cartões, mas depois surgiu a ideia de criar um diário. Na altura de Natal enviamos uma garrafa de licor e algumas figuras e elementos radiantes. Depois que a guerra acabou e começamos a enviar salários aos nossos emigrantes, abaixo.

Em que ano ou dia foi fundado?
Em 1967.

Logo foi um diretor?
Não, primeiro fui até minha irmã. Ele morreu há 12 anos e começou a perguntar o que iria substituir. Você tem um homem que pertence ao jornal que dizia logo: ‘Fica a Dona Albertina’. Disse que não tinha poderes, mas depois disse que as responsabilidades estavam divididas e que também desempenhava o cargo de diretor. Você não quer desistir, mas não me deixe perder [risos].

Em 1967 vivíamos na pobreza e os meios de comunicação eram controlados. Ou ‘Ecos da Serra’ alguma vez foi censurado?
Nunca tivemos grandes problemas porque o dia começou porque era um conjunto de cartas que enviamos aos predadores que estavam na Guerra do Ultramar. Foi um dia muito simples que muita gente nem sabia que existia. O objetivo era manter a comunidade feliz e em benefício de dois soldados.

E aí, você já visitou a PIDE (polícia política)?
Não estou contente por, anos depois, ter descoberto que uma pessoa da freguesia pertence à PIDE. Ela me contou que queria ser homenageada pelo Estado, na altura, porque estava fazendo muitas coisas boas pela terra, inclusive publicando o jornal. Vivíamos tranquilamente na Alte no tempo de Salazar. Na altitude era proibido fazer reuniões, mas sempre nos encontrávamos muitas vezes e nunca fomos vistos conversando.

E qual foi a reação da freguesia perante duas mulheres a trabalhar diariamente, numa altura em que não havia igualdade?
A jornada foi paga por um grupo de mulheres e homens que se reuniram para passear no domingo. O grupo era muito unido e só conseguimos encontrar algumas coisas e na maior parte concordamos. A minha irmã era muito persistente e geralmente dominava as decisões, mas todos concordavam que o que estava escrito era para o benefício da comunidade.

E depois de abril de 1974 começamos a contabilizar outras coisas na diária?
Neste momento não sabemos o que aconteceu e continuamos a fazer tudo igual, porque o trabalho não era político nem religioso. Passou a ter mais notícias da terra para os emigrantes. Não havia espaço para política…

Qual é o salário diário?
Já tenho 1800 exemplares, agora são só 800. É bimestral.

Seja qual for o cabelo, enviamos para o mundo inteiro…
Sim, só não enviamos para o continente asiático. Há pouco recebemos uma carta da Austrália, de uma pessoa dizendo que estava muito feliz em saber novidades da terra.

Quantas pessoas estão envolvidas na edição?
Concordo. Na composição da revista temos de quatro a cinco pessoas, na composição da revista temos um senhor que recebe os artigos do nosso tesouro. Depois da compostagem, venha até mim para ver se tem algum defeito, alguma coisa que não deva mexer. Depois vamos à tipografia, que fica em Tavira. Volte aqui e dobramo-lo para colocar no correio e enviar.

Você tem apoio para trabalho ou salário?
Temos os assassinos, o que comandamos ou o que queremos. Depois da reunião da Câmara Municipal também ajudamos.

Como foi a sua juventude em Alte?
Amei mais dois países, mais dois dias e tenho o suficiente para viver bem. Eu amava todas as pessoas, era muito feliz, gostava de rir e pular, de conviver com as pessoas. Muito boas recordações, de uma aldeia onde não havia estradas, carros ou telefones como havia agora. Nos encontramos mais vezes, passamos muito tempo e fizemos algumas coisas para nos divertir, como recitais, teatros e festivais quando estivemos lá durante anos.

Nunca saiu daqui de Alte?
Não. Quando sair a quarta turma, o meu país vai mandar-me para Faro, para estudar em casa do meu padrinho. Naquele tempo, as raparigas não são fáceis de estudar como a folha. Mas pelo menos estudei muito e todos os dias e todas as noites pedia ao nosso país para estudar; e depois fomos todos para Faro.

Em que ano você estudou?
Estudei o 3º ano do ensino secundário, e depois fiz o exame em Lisboa porque o meu primeiro ano de estudos foi no 6º ano em Faro. Acabamos por ir como meu país para Lisboa.

Depois de começar a trabalhar?
Não, pelo menos troquei o ensino primário e secundário pelo Algarve, colocado aqui em Alte, onde estou há 40 anos. Ó meu irmão, quando você para no auge de ir para a tropa, você sai dos estudos e aí não quer mais estudar. Acabou se dedicando à agricultura. Eu vim parar aqui. A princípio pensei em me dar explicações, mas acabei me dedicando aos assuntos domésticos e aqui estou. Ainda trabalho aqui na aldeia para ganhar dinheiro para estar aqui na terra.

Dinheiro Angariava?…
Sim, tínhamos um grupo de amigos, fazíamos sorteios e outras coisas para conseguir dinheiro. Vamos tirar o telhado da igreja, que está em péssimo estado, e vamos tirar também o dinheiro de algumas pinturas que contavam a vida de São Luís. Na primeira ambulância que encontramos estávamos ansiosos para ver.

Como você sabe que é diretor de um jornal há 100 anos?
Não sinto que tenho essa identidade, então não me sinto velho [risos].

Ele merece uma homenagem este ano…
Sim, recebi uma medalha da câmara de Loulé pelo meu trabalho, mas disse que a medalha não era só minha, era de todos os que trabalharam comigo.

Não tenha mais de 30 arestas vivas…
Então as pessoas me convidaram e disseram que sim. Alguns morreram, outros mantiveram contacto e, por outro lado, escreveram um apelo não funcional para tentar descobrir o seu paradeiro.

Receba lindas visitas…
Tenho um licor que fiz e também doze figos.

Há algo que eu preciso fazer?
Muitas coisas, mas é impossível fazer tudo. Estou muito feliz.

Primeira diarista portuguesa
Virgínia Quaresma (1882-1973) foi a primeira jornalista portuguesa e também, juntamente com Berta Gomes de Almeida, a primeira mulher a licenciar literatura (1903). Começou a trabalhar no dia ‘O Século’, a convite de Manuel Guimarães, em 1908, o logótipo que se seguiu ao assassinato do Rei D. Carlos. Feminista e republicana, discursou na Assembleia-Geral da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 26 de outubro de 1910, que aprovou a cadeia de reivindicação feminista para apresentar Afonso Costa. Ela falou em inúmeras sessões de propaganda republicana em Centros Escolares Republicanos, antes e depois do 5 de outubro, quebrando a tradição de a caixa política ser composta por dois homens. Ela queria trabalhar no Brasil. Ela morreu aos 91 anos, vítima de um ataque cardíaco.

Albertina Madeira é, garante, a diretora de jornal mais antiga de que há memória: completamos 100 anos desde o passado dia 26 de janeiro. Está à frente dos ‘Ecos da Serra’, fundados em 1967, na freguesia de Alte, concelho de Loulé.

Como surgiu o ‘Ecos da Serra’ na sua vida? Com um grupo de amigos passámos momentos juntos, caminhámos pelo terreno e apreciamos as paisagens.



Calvin Clayton

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