Milhares de portugueses saíram hoje às ruas para comemorar o 25 de abril pela primeira vez sem quaisquer restrições desde o início da pandemia, com uma ideia clara: devemos celebrar o dia que trouxe ao país a democracia e a liberdade “todos os anos”.
Esta é a mensagem que se espalhou entre os presentes no tradicional desfile que percorreu a Avenida da Liberdade no 48º aniversário da Revolução dos Cravos, em que o centro de Lisboa recuperou o esplendor que esta importante data tinha antes da pandemia.
Após ser cancelado em 2020 e realizado com limitações em 2021, o desfile deste ano reuniu milhares de pessoas com cravos na mão ou na lapela, que entoaram em voz alta “25 de abril sempre” e “Fascismo nunca mais”.
Este ano, há uma razão a mais: Portugal já viveu mais dias em democracia do que em ditadura.
COMEMORAR A CADA ANO
“Todos os anos nesta data temos que comemorar o golpe que nos deu a liberdade e tirou a ditadura e o fascismo”, defende Francisca, uma das participantes do desfile, perante a Efe, para celebrar o dia que trouxe a democracia a Portugal após “48 anos de sofrimento e de boca fechada”.
Ao lado dela, a amiga Júlia acena com a cabeça e lembra que também participou em 2021, apesar das restrições. “Eu não falhei em nenhum ano. Eu sempre digo que mesmo velha eu irei”, diz ela com uma risada.
No meio da multidão, você também pode ver rostos jovens que já nasceram na democracia, como Ricardo, um jovem de vinte e poucos anos que anda com os amigos.
“Nos últimos dois anos com a pandemia, foi um pouco difícil comemorar o 25 de abril em casa, e agora eu tinha que estar na rua comemorando”, disse à Efe, destacando o quão importante é que as novas gerações não esqueçam o que significa esta data.
“Temos ainda mais responsabilidade de estar na rua e não perder a memória de quem lutou para que tivéssemos este dia”, insiste.
Este ano algumas máscaras ainda foram vistas entre os participantes, apesar de em Portugal, desde sexta-feira passada, já não serem obrigatórias dentro de casa, com exceção de hospitais, residências e transportes públicos.
Aos cravos e às cores vermelha e verde de Portugal juntaram-se desta vez uma bandeira ucraniana e uma mensagem sobre o que se passa no outro extremo da Europa: “Paz sim, guerra não”.
LEMBRE-SE DAS FORÇAS ARMADAS
No plano institucional, o foco deste ano foi o papel desempenhado pelas Forças Armadas na revolução pacífica que encerrou a ditadura em 1974.
O presidente de Portugal, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, vai condecorar todos os soldados que participaram do evento de 25 de abril daqui a dois anos, quando se comemora o 50º aniversário.
Esta homenagem suscitou polémica devido à atuação de algumas destas figuras, ligadas após a revolução a movimentos extremistas e violentos, mas Rebelo de Sousa insistiu na segunda-feira que é necessário reconhecer o papel que tiveram.
“Não importa o que você pensa sobre o que eles eram antes e depois, aquele momento foi exemplar e decisivo”, disse ele durante seu discurso na sessão comemorativa realizada no Parlamento.
O presidente também aproveitou para defender hoje o papel das Forças Armadas e pediu mais recursos para que possam cumprir suas missões.
O primeiro-ministro, o socialista António Costa, esteve mais tarde em sintonia com o presidente e garantiu que os investimentos na Defesa já estão “programados”.
No final da sessão no Parlamento, vários dos convidados presentes nas galerias cantaram “Grândola, Vila Morena”, o hino da Revolução, de forma improvisada, ao qual se juntou parte dos deputados do hemiciclo.
O dia aberto na Assembleia, que estava suspenso durante os dois anos de pandemia, foi também retomado, e o Palácio de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, abriu os seus jardins sem limitações com um programa cultural.
Paula Fernandez
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