O presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa sancionou a lei que descriminaliza a morte assistida, aprovada pelo Parlamento português na sexta-feira, depois de tentar impedi-la quatro vezes.
A quinta vez é o encanto. Depois de o Parlamento anular o último dos quatro vetos presidenciais na sexta-feira, o chefe de Estado conservador Marcelo Rebelo de Sousa assinou o projeto de lei que descriminaliza a eutanásia neste país mediterrâneo de maioria católica. De acordo com um comunicado de seu gabinete, o presidente assinou a lei “porque é obrigado” a fazê-lo pela Constituição.
A lei permitirá que pessoas maiores de idade solicitem assistência para morrer se demonstrarem um “sofrimento de grande intensidade, com lesão definitiva de extrema gravidade ou doença grave e incurável”, e terá que ser praticada por profissionais de saúde. Estabelece ainda um prazo de dois meses entre a aceitação do pedido e o próprio procedimento e torna obrigatório o apoio psicológico.
Além disso, a legislação se aplicará apenas a nacionais e residentes legais e não se estenderá a estrangeiros que entrem no país buscando acabar com seu sofrimento.
A aprovação do texto representa um ponto e parte de uma longa luta iniciada há quase seis anos, em que quatro tentativas de lei foram aprovadas pelo Parlamento e posteriormente bloqueadas por dois vetos políticos e dois vetos do Tribunal Constitucional.
O Presidente da República enviou o primeiro decreto sobre a legislação para revisão constitucional em fevereiro de 2021; vetou a segunda tentativa em novembro do mesmo ano; e mandou a terceira de volta à fiscalização preventiva, em janeiro de 2023. As duas apresentações perante o Tribunal Constitucional deram origem a vetos por inconstitucionalidade. Em 19 de abril deste ano, antes do quarto projeto de lei, o presidente da República o vetou, mas descartou que havia problemas constitucionais.
Na sexta-feira, o Parlamento voltou a votar o projeto de lei sem as alterações solicitadas por Rebelo de Sousa, anulando assim o seu veto. Os defensores do texto venceram com notável maioria liderada pelos socialistas de 129 votos a favor, 81 contra e uma abstenção. Quase todos os membros do Partido Socialista votaram a favor da legislação, assim como três partidos menores de centro-esquerda e a Iniciativa Liberal, e até mesmo alguns membros do partido majoritário da oposição, os Social-democratas.
No entanto, o Partido Social Democrático, principal partido da oposição de centro-direita, anunciou que vai recorrer da lei ao Tribunal Constitucional.
Isabel Moreira, política do Partido Socialista encarregada de apresentar o projeto de lei ao parlamento, saudou a votação como uma materialização das liberdades aspiradas pela Revolução Portuguesa de 1974, que marcou o início da democracia.
A norma entrará em vigor no dia seguinte à sua publicação no Diario de la República.
Portugal junta-se assim à Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha e Espanha, e torna-se o sexto país da União Europeia onde a eutanásia é legal.
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