Portugal aprovou hoje, pela terceira vez, a descriminalização da eutanásia, embora a última palavra ainda corresponda ao presidente português, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que suspendeu a lei em duas ocasiões anteriores.
Em sua terceira votação no Parlamento, a proposta foi aprovada com o apoio do Partido Socialista -que governa com maioria absoluta-, Iniciativa Liberal (conservadora) e Bloco de Esquerda, Livre (esquerda) e PAN (Animalista). Contra, o Partido Comunista Português, o Partido Social Democrata (PSD) e a extrema-direita Chega.
Tanto o PSD, líder da oposição que falhou na tentativa de convocar um referendo sobre o tema, como os socialistas acabaram por dar liberdade de voto aos seus deputados. Em ambos os casos, seis votaram contra a opinião do partido.
A descriminalização da eutanásia não tem tido um caminho fácil em Portugal, onde acrescenta cinco anos de debate parlamentar e duas leis já aprovadas mas vetadas pelo Constitucional ou pelo presidente.
o que diz a lei
O texto define morte medicamente assistida como aquela que “ocorre por decisão própria” de uma pessoa, “no exercício do seu direito fundamental de autodeterminação” e quando é “praticada ou assistida por profissional de saúde”.
Será aplicado exclusivamente em casos de adultos, com doenças “grave e incurável” ou lesões “extremamente graves”.
Além disso, estabelece um prazo mínimo de dois meses entre o início do processo e a morte medicamente assistida. e estabelece o acompanhamento psicológico obrigatório para o paciente.
Um longo caminho
Só em 2015 é que os políticos ecoaram as propostas da sociedade civil a favor da eutanásia em Portugal. O gatilho foi um manifesto do movimento “Direito de Morrer com Dignidade” assinada por mais de uma centena de intelectuais e personalidades.
O Bloco de Esqueda assumiu e elaborou um documento que serviu de base a um primeiro debate parlamentar, em 2017, embora não tenha chegado a votação.
Na última legislatura, a lei foi aprovada duas vezes, mas foi travado pelas reservas do presidente português.
No primeiro caso, Rebelo enviou a norma ao Tribunal Constitucional, que a rejeitou por apreciar conceitos “imprecisos” e abriu as portas a um novo processo parlamentar.
Com correções, a Câmara aprovou novamente em novembro de 2021, mas o presidente –católico praticantee- usou seu veto político para “contradições” nas situações de aplicação.
O presidente tem a última palavra
Desta vez, a margem de ação presidencial para coibir a regulamentação é reduzida.
O próprio Rebelo afirmou quinta-feira que vai dar “uma resposta rápida” ao texto e admitiu que esta última versão “tem em consideração” as reservas que já tinha manifestado no passado.
“Agora é uma questão de ver, de fato, qual é a forma mais adequada”ele apontou.
O direito não está confirmado
O PSD não parece resignado em aceitar que a eutanásia seja uma realidade em Portugal e estude seus próximos passos.
Sua tentativa de avançar com um referendo esbarrou na esquerdaque a qualificou como uma “pirueta política”, e foi rechaçada até pela extrema direita por não se adequar aos tempos previstos na Constituição.
Mas PSD e Chega podem unir forças para levantar uma consulta popular no próximo curso político, a partir de setembro de 2023.
Além disso, após uma hipotética vitória eleitoral, o PSD poderia promover a revogação da lei, como sugeriu hoje o ex-presidente conservador Pedro Passos Coelho.
Por enquanto, se, como é esperado em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa promulgar a lei, o governo socialista tem um prazo de 90 dias para sua aprovação.
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