- Elaboração
- BBC News World
13 navios com 1.500 homens partiram de Lisboa com destino à Índia no dia 9 de março de 1500. Mas a expedição, comandada por Pedro Álvares Cabral, teve um grande imprevisto: o “descobrimento” do Brasil.
Naquela época, Espanha e Portugal eram duas superpotências que disputavam riquezas e territórios após a chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492.
De fato, enquanto Cabral zarpava com sua poderosa frota, Colombo realizava sua terceira expedição, na qual alcançou a costa da atual Venezuela.
A expedição comandada pelos portugueses pretendia chegar a Calecute, sul da Índia,para consolidar a rota beirando o Cabo da Boa Esperança que seu compatriota havia estabelecido dois anos antes Vasco da Gamaconsiderado o primeiro europeu a navegar para a Índia.
Porém, antes de atingir seu objetivo, Cabral chegou à costa brasileira, um dos episódios mais importantes da história de Portugalembora a questão permaneça sobre o quão casual foi.
“Houve algum imprevisto? Bom, houve um grande imprevisto sim: a chegada ao Brasil”, disse à BBC Brasil Paulo Pinto, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. reportagem por ocasião dos 520 anos da chegada dos europeus ao Brasil.
“A marinha tinha como destino a Índia e tocou a costa brasileira por acidente. Portugal já devia suspeitar da existência de terras naquela região, mas a verdade é que Cabral e seus homens foram pegos de surpresa. A chegada ao Brasil foi “portanto, um acidente rodoviário numa viagem com objectivos estratégicos bem definidos. A Índia era a prioridade número um na coroa de Portugal.”
um almirante inexperiente
Curiosamente, o homem a quem o então rei de Portugal, Manuel I (1469-1521), tinha confiado a maior, mais cara e mais poderosa armada portuguesa, nunca tinha comandado uma expedição antes.
Era um nobre portuguêsuns 32 ou 33 anos, e não um navegador de renome como Vasco da Gama ou Bartolomeu Dias, o primeiro a cruzar o Cabo da Boa Esperança.
Desconhecem-se as circunstâncias da sua eleição por D. Manuel I e só se sabe que teve o confiança absoluta da Coroa português.
“Cabral era filho de uma família que, desde 1385, mantinha laços estreitos com a Coroa”, disse o jornalista e escritor Eduardo Bueno, autor de Brasil: Terra à Vista! – Uma aventura ilustrada de descoberta (Brasil: Terra à Vista! A Aventura Ilustrada do Descobrimento).
Mas pouco mais se sabe sobre a vida de Álvares Cabral.
Aquele que ficaria para a história como o descobridor do Brasil nasceu entre 1460 e 1470 na vila de Belmonte, e faleceu em 1520, na cidade de Santarém.
Para os historiadores portugueses ouvidos pela BBC Brasil, Álvares Cabral é um personagem muito menos controversa do que outros velejadorese os detalhes conhecidos sobre sua vida não são muito interessantes.
A grande polêmica sobre sua vida é se chegou à costa brasileira intencionalmente ou por acidente.
Essas expedições eram tão arriscadas que, antes de partir, muitos tripulantes já tinham seus testamentos assinados.
Nelas conjuravam-se perigosas tempestades, naufrágios, doenças e fome.
A comandada por Álvares Cabral não foi exceção.
Era seguir o caminho anteriormente percorrido por Vasco da Gamapara fortalecer os laços comerciais que seu antecessor havia iniciado.
Com apenas oito dias de viagem, a frota enfrentou sua primeira tempestade. Tão forte que, perto do arquipélago de Cabo Verde, um dos navios, com 150 homens a bordo, desapareceu.
Por isso, seguindo as instruções do próprio Da Gama, com base em suas experiências durante a primeira viagem, Cabral tomou uma rota mais ocidental ter condições e ventos mais favoráveis.
Foi assim que, 44 dias depois de partirem, começaram a ver algas. Então, a cerca de 60 quilômetros da costa, alguém gritou: “Terra à vista!” Era a noite de 22 de abril de 1500.
À frente deles estava a costa do que hoje é Porto Seguro, no estado brasileiro da Bahia. Pensando tratar-se de uma ilha, Álvares de Cabral chamou o território de Ilha Vera Cruz.
A frota permaneceu no local por 10 dias, antes de partir em 2 de maio para Calicut. Um dos navios, comandado por Gaspar de Lemos, foi enviado de volta a Portugal com a missão de comunicar ao rei ele “descoberta“da nova terra.
A segunda parte da viagem durou pouco mais de cinco meses. Em 13 de setembro de 1500, a frota de Cabral, reduzida a seis navios, chegou ao seu destino, Calecute. Na Índia, a frota sofreu mais baixas.
De volta a Portugal, o que restava da frota atracada em Lisboa, o 21 de julho de 1501.
Do total de 1.500 homens, apenas 500 conseguiram voltar para casa. O resto morreu no mar, vítimas de naufrágios ou doenças.
Apesar de ter sofrido perdas, a expedição foi um sucesso. Após seu retorno, Cabral recebeu inúmeras homenagens, mas Não ele voltou para comando nenhum outro expedição relevante.
“Isso tem levantado algumas dúvidas. Os historiadores dizem que o rei estava insatisfeito com os seus serviços, mas são apenas especulações”, explicou o professor Pinto.
Uma casualidade?
O Brasil passou por pouco de outros navegadores, entre eles o português Duarte Pacheco Pereira.
Comandando uma frota de oito navios, pacheco pereira teria explorado a costa brasileira, no auge do atual estado do Maranhão (nordeste), em dezembro de 1498.
“Embora ele sugira isso em seu livro Situ Orbis Emeraldnão há nenhum documento que credencie essa tese”, explicou Bueno à BBC Brasil.
Mas a suposta presença de Pereira vagando pela costa brasileira em 1498 faz com que alguns historiadores descartem a hipótese de que Cabral chegou ao Brasil por acaso.
Para muitos, o fato de Cabral ter se desviado para o oeste mostra que os portugueses já sabiam da existência dessas terras, que pertenciam a Portugal por força da Tratado de Tordesilhas.
“O consenso é que Portugal sabia da existência de terras no Atlântico. Caso contrário, ele não teria pressionado o Papa Alexandre VI a modificar a bula. Inter Coeterade 1493, que manteve os portugueses fora do Novo Mundo descoberto por Colombo em 1492″, explicou Ronaldo Vainfas, professor de História Moderna da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, a André Bernardo, da BBC Brasil.
Aquele touro traçou uma linha divisória no Atlântico 100 léguas a oeste dos Açores e de Cabo Verde: tudo o que estivesse a leste seria para Portugal, enquanto o que ficasse a oeste seria atribuído a Castela.
Inicialmente Portugal aceitou, mas no processo de discussões que decorreu em Tordesilhas entre ambas as partes, os portugueses solicitaram o deslocamento da linha divisória para oeste.
Em 7 de junho de 1494, os Reis Católicos, Isabel e Fernando, e o então Rei de Portugal, Juan II, chegaram a um acordo e assinaram o Tratado de Tordesilhas, um acordo para dividir as terras “descobertas e não descobertas” fora da Europa.
Eles traçaram a linha divisória do Oceano Atlântico localizada em 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. O Brasil, portanto, permaneceu do lado português.
“Mas o fato é que a viagem de Cabral era mesmo para a Índia. Um temporal desviou o caminho e ele foi parar em Porto Seguro. Uma coisa é saber que ali havia terra. Outra é montar uma expedição com o objetivo de chegando ao sul da Bahia Por isso, o historiador português Joaquim Romero de Magalhães (1942-2018) prefere chamar a viagem de ‘achado’ e não de ‘descoberta'”, acrescentou Vainfas.
Além de Pereira, outros dois exploradores espanhóis teriam chegado ao Brasil antes de Cabral: Vicente Pinzón e Diego de Lepe.
Pinzón, que fizera parte da frota que, sob o comando de Colombo, chegou à América pela primeira vez em 1492, teria chegado ao Cabo de Santo Agostinho, litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500, três meses antes chegada de Cabral à Bahia.
Algumas semanas depois, em fevereiro de 1500, o primo de Pinzón, Diego de Lepe, também navegou em águas brasileiras.
A Espanha simplesmente não reivindicou a descoberta do Brasil por causa do Tratado de Tordesilhas. Mesmo assim, o rei Fernando II de Aragão condecorou Vicente Pinzón e Diego de Lepe pela façanha de terem “descoberto” o Brasil.
E Cabral entrou para a história pela descoberta do que é hoje o gigante sul-americano.
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