A inflação na Espanha acaba de ultrapassar 10%. Putin foi logo culpado, mas já tínhamos uma inflação vertiginosa antes da invasão da Ucrânia. A inflação generalizada é sempre e em toda parte um fenômeno monetário. Em 4.000 anos de história econômica, pode-se ver como o excesso de produção monetária e o controle de preços geram inflação (do Codex de Hamurabi aos atuais Bancos Centrais, passando pela Roma imperial ou Venezuela chavista). A impressão infinita de dinheiro é uma cópia da política japonesa após sua crise imobiliária na década de 1980. Ao distribuir dinheiro grátis, salvam-se empresas e estados que deveriam falir por ineficiência e/ou irresponsabilidade. Esse remédio teve suas consequências: o Japão caiu na armadilha da liquidez, que é que mais dinheiro não estimula a economia. Mais dinheiro é tão inútil quanto se a corrente da sua bicicleta se soltasse e você continuasse pedalando forte.
O medo do prêmio de risco espanhol ressurge, como o experimentamos em 2012. Naquela ocasião, “a solução mágica” consistia em distribuir dinheiro aos estados falidos e vê-lo chegar. O problema é que o futuro chegou cedo demais, e agora você não pode continuar imprimindo dinheiro com a inflação descontrolada. Os PIIGS (sigla para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, que significa porco em inglês) estão de volta. Bem, nem todos os PIIGS, agora a Irlanda se foi porque optou por reformas. O resto dos estados teve sorte diferente. A Espanha deu dinheiro ao sistema financeiro espanhol, que hoje aparece dentro de 120% da dívida do Estado. Portugal fez cortes, e a Grécia levou a pior com aumentos generalizados de impostos, reduções de 40% nas pensões, despedimento de funcionários públicos e redução dos seus salários até 60%, etc…
Muitos economistas alertaram no ano passado que a inflação seria um problema, mas nos trataram como se fôssemos estraga-prazeres, entre outros os keynesianos. A teoria econômica de Keynes era basicamente que quando as crises vêm, o Estado deve gastar para compensar a redução da demanda do setor privado. Todos os partidos políticos do mundo civilizado se aproveitaram disso para ter uma desculpa para gastar sem vergonha. O que mais um político quer do que poder usar o dinheiro do futuro para dar ao seu povo o que o fará ganhar as próximas eleições? Quando Keynes foi questionado sobre as consequências inflacionárias de longo prazo de suas medidas, ele respondeu que, a longo prazo, todas elas estariam mortas. Embora seja verdade que ele morreu, vale lembrar que ele também disse que quando o setor público arrecadasse mais (como resultado da expansão econômica) o Estado deveria economizar esses recursos para usá-los em anos de vacas magras. Esta última parte nunca é levada em conta por seus fiéis seguidores. Mas não é culpa dos políticos, para eles o futuro não vai além das próximas eleições em poucos meses. Nosso sistema está quebrado porque os responsáveis por decidir questões econômicas de longo prazo vivem no curto prazo. Todos nós pagamos as consequências dessas decisões. Por que o povo espanhol não se rebela contra esses excessos? Primeiro, por causa do analfabetismo financeiro. Segundo, pela hipótese da irracionalidade racional de Caplan, segundo a qual o eleitor médio aceita medidas irracionais (como gastos descontrolados) porque supõe que as consequências para ele serão mínimas, os benefícios altos (como ajudas e subsídios em um país onde mais pessoas dependem no setor público ao vivo do que no setor privado). Além disso, o preço de tudo isso será pago pelos ricos, que são egoístas e obtêm seus lucros aproveitando-se dos outros (principalmente dos trabalhadores). Com este último, a consciência do eleitor médio se acalma. Já se sabe que quem rouba um ladrão tem cem anos de perdão.
Os bancos centrais são cúmplices necessários em toda essa política de caldo de gordura. Esqueceram sua principal missão, que é o controle de preços. Pressionados pelo interesse político, entre outras medidas, lançaram-se para comprar títulos dos Estados membros em violação aos seus próprios estatutos. Precisamos de instituições que zelem a longo prazo e que prestem contas diretamente aos cidadãos. Na realidade, precisamos que as instituições cumpram o propósito para o qual foram criadas e não mudem as regras no meio do partido por interesses políticos. Na crise da dívida soberana, a situação acalmou-se quando a Grécia faliu. Será o mesmo desta vez? Você terá que quebrar um dos PORCOS? Quem vai pegar agora?
Carlos Medrano sozinho Economista em www.eximiaconsultores.com
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