- JM Corpa Arenas, E. Montero Cortijo, J. Ortega Porcel e J. Rosell
- A conversa*
Fonte da imagem, Imagens Getty
A mordida do navio de guerra português pode ser extremamente dolorosa.
Quando chega o verão, uma das preocupações mais comuns nas nossas costas é o aparecimento de águas-vivas, que podem causar um impacto socioeconómico significativo.
O caravela portuguesa (Physalia physalis), também conhecido como garrafa azul ou falsa água-vivateve grande repercussão midiática nos últimos anos devido às lesões causadas pelo contato acidental.
Este organismo invertebrado é um cnidário (filo Cnidaria), grupo taxonômico no qual encontramos anêmonas do mar, corais e águas-vivas. A embarcação de guerra portuguesa, que pertence à classe Hydrozoa, tem um desenvolvimento muito complexo.
Ao contrário das medusas, que são organismos individuais, uma nave de guerra portuguesa é na verdade um colônia flutuante. Seu ciclo de vida inicia-se como um único pólipo resultante da reprodução sexuada (protozoóide).
Este se alonga para incorporar outros pólipos (zoóides) que darão origem a uma colônia.
Tal como acontece com as colônias de insetos como as formigas, cada zoóide é modificado para desempenhar uma função. O nome que recebem depende disso:
- Pneumatóforo. É uma cavidade cheia de gás que permite a flutuação da caravela. Tem o formato de uma vela e sustenta o resto da colônia.
- Gastrozóide. É formado por pólipos responsáveis pela alimentação. Para fazer isso, eles liberam enzimas.
- Gonozóide. É responsável pela reprodução desses organismos.
- Dactilozoides. São os tentáculos que emergem da extremidade do pneumatóforo e podem atingir 20 metros de comprimento. Eles são responsáveis pela defesa do organismo e pela captação de alimentos.
É na superfície desses tentáculos que encontramos a estrutura mais característica dos cnidários: os cnidócitos. São células epiteliais dentro das quais abrigam estruturas urticantes chamadas nematocistos.
A origem da dor
A embarcação de guerra portuguesa alimenta-se de pequenos invertebrados. Para isso, possui mais de um milhão de nematocistos em cada centímetro de seus tentáculos.
Fonte da imagem, Imagens Getty
Perigoso, mas extremamente bonito.
Estes permitem paralisar pequenas presas e introduzi-las na cavidade gastrovascular, onde os gastrozóides realizam o processo de digestão.
O Os nematocistos são responsáveis por dores e irritações na pele sofrida por pessoas que entram em contato com esses organismos. Às vezes, eles podem até causar morte.
Essas estruturas pontiagudas têm formato oval e tamanho de cerca de 100 μm (1 mm = 1000 μm). Sua posição é apical e em sua superfície existe um flagelo denominado cnidocílio.
Este flagelo tem a função de captar estímulos mecânicos para desencadear a descarga. O nematocisto consiste em uma cápsula invaginada de parede dupla, um opérculo que a fecha e um filamento tubular enrolado em seu interior que geralmente contém farpas.
Quando a descarga de um nematocisto é ativada, o filamento tubular emerge em microssegundos e cava na pele da vítima.
Eles se conhecem mesmo 30 tipos de nematocistosque diferem na posição dos espinhos (e portanto no grau de ancoragem ao tecido) e no tipo de veneno que inoculam.
Isto é o que determina grau de toxicidade de cada cnidário. No caso da embarcação de guerra portuguesa, existem três tipos:
- Estenothele. É o mais agressivo, pois quando ativado perfura a pele e injeta uma hipnotoxina que paralisa ou mata a vítima.
- Desmonema. Ele contém um filamento curto, grosso e farpado que se enrola firmemente em torno da presa.
- Isorizar. É um nematocisto que facilita a fixação dos tentáculos na presa.
Mas porque é que o veneno da embarcação de guerra portuguesa é tão tóxico? É uma mistura complexa de polipeptídeos tóxicos e enzimas de alto peso molecular, incluindo amônia, serotonina e histamina. Tem propriedades hipnóticas e a dor que produzem é muito forte.
Nas pessoas pode causar vômitos, febre muito alta, problemas cardíacos, náuseas e ansiedade, que geralmente passa dentro de alguns dias. Em caso de sensibilidade especial à toxina pode até causar morte.
Sem lama ou urina
Fonte da imagem, Imagens Getty
Se formos mordidos, devemos limpar a parte afetada do corpo com água salgada e não doce.
Há uma série de recomendações caso entremos em contato com uma dessas organizações.
- Se a pessoa afetada ainda tiver restos de tentáculos presos, eles devem ser removidos cuidadosamente com luvas ou algum material não irritante para evitar novo contato.
- A pele deve ser limpa com água salgada (do mar, por exemplo) ou soro fisiológico, se disponível. O uso de água doce não é recomendado, pois a diferença na pressão osmótica pode ativar alguns nematocistos ainda presentes na pele do paciente e piorar as lesões. Você também não deve usar vinagre, urina, lama e outros produtos similares que possam desencadear infecções bacterianas.
- As áreas afetadas devem ser protegidas da luz solar direta.
- Nos casos em que a dor ou a coceira não diminuem, ou surgem novos sinais clínicos associados, recomenda-se uma visita ao centro médico mais próximo. Geralmente, utiliza-se o uso de analgésicos, anti-histamínicos e corticoides de uso cutâneo. É preciso manter a calma: casos graves são muito raros.
*Juan Manuel Corpa Arenas é Professor de Histologia e Anatomia Patológica, Universidade CEU Cardenal Herrera.
Estefania Montero Cortijo é residente de Anatomia Patológica Veterinária da Universidade CEU Cardenal Herrera.
Joaquín Ortega Porcel é professor de Anatomia Patológica, Diploma ACVP, Universidade CEU Cardenal Herrera e Jorge Rosell é professor, Universidade CEU Cardenal Herrera, Espanha.
PARAvez que você pode receber notificações da BBC Mundo. Baixe a nova versão do nosso aplicativo e ative-os para não perder nosso melhor conteúdo.
Este artigo contém conteúdo fornecido pelo Google YouTube. Pedimos sua permissão antes de carregar algo, pois esse site pode estar usando cookies e outras tecnologias. Você pode querer ler Política de cookies e política de Privacidade do Google YouTube antes de aceitar. Para visualizar este conteúdo, selecione ‘aceitar e continuar’.
Fim do conteúdo do YouTube, 1
Este artigo contém conteúdo fornecido pelo Google YouTube. Pedimos sua permissão antes de carregar algo, pois esse site pode estar usando cookies e outras tecnologias. Você pode querer ler Política de cookies e política de Privacidade do Google YouTube antes de aceitar. Para visualizar este conteúdo, selecione ‘aceitar e continuar’.
Fim do conteúdo do YouTube, 2
Este artigo contém conteúdo fornecido pelo Google YouTube. Pedimos sua permissão antes de carregar algo, pois esse site pode estar usando cookies e outras tecnologias. Você pode querer ler Política de cookies e política de Privacidade do Google YouTube antes de aceitar. Para visualizar este conteúdo, selecione ‘aceitar e continuar’.
Fim do conteúdo do YouTube, 3
“Organizador. Introvertido. Fanático certificado pela internet. Beeraholic. Fã de álcool irritantemente humilde.”