A música portuguesa é enriquecida por influências de outros países e vive um bom momento, mas a sua descolagem internacional “não é fácil”, diz o músico português Miguel Araújo em entrevista à Efe, que este ano celebra o décimo aniversário do seu primeiro solo álbum.
“A música portuguesa está de boa saúde. Acho que há grandes representantes da música portuguesa em vários estilos diferentes. Isso é saudável e muito bom”, diz o cantor e compositor.
A sua carreira começou com o grupo “Os Azeitonas”, depois continuou sozinho com uma produtora internacional e há alguns anos decidiu tornar-se um artista independente.
Agora apresenta “Chá Lá Lá”, o sexto álbum de sua carreira solo e o “mais pop, alegre, luminoso e introspectivo” até hoje.
A música portuguesa, na sua opinião, incorpora “o que sente que acredita e o que há de bom nas coisas que vêm de fora”. “Fernando Pessoa costumava dizer que ser português não é ser português, é ser tudo, e a música portuguesa é um reflexo disso”.
No entanto, uma das tarefas ainda pendentes é dar a conhecer internacionalmente as canções portuguesas, algo que, lamenta, “não é fácil” em comparação com outros países, como o Brasil ou ex-colónias africanas de língua portuguesa.
“O Brasil é muito forte e não precisa importar cultura, e os países africanos onde se fala português também, por isso a música portuguesa, pelo menos a minha música, não tem grandes aspirações internacionais, não é muito ouvida no exterior.”
E, acrescenta, “10 milhões (a população de Portugal) é pouco para um país, mas muito para um artista”.
LETRAS PARA MUITOS PORTUGUESES
Miguel Araújo (Maia, Portugal, 1978) compõe constantemente, não só para si mas também para cantores portugueses como Carminho, Ana Moura, Ricardo Tavares, Ana Bacalhao ou António Zambujo, uma “alegria que nos permite ouvir música a outras vozes que são melhores que os nossos.”
“Na maioria das vezes não pedem nada de especial, só pedem música e pronto. É uma coisa que gosto de fazer porque vai além dos limites. Uma música para um cantor como o Carminho ou a Ana Moura permite-me ir a notas melódicas que não consigo ir”, explica.
Durante os meses de confinamento, aproveitou para compor músicas em casa, editar três álbuns no seu estúdio “com calma” e desenvolver a sua música “bastante bem cuidada” numa altura em que a sua vida pessoal e profissional se fundiam numa só.
Agora, no regresso aos palcos, pretende transformar os seus primeiros concertos numa festa em que participarão alguns dos “amigos” dos artistas.
Aberto a uma colaboração com artistas hispânicos, adoraria trabalhar com o espanhol Pedro Guerra e o uruguaio Jorge Drexler, que conheceu pessoalmente.
DE UMA GRANDE EMPRESA DE PRODUÇÃO A UM ARTISTA INDEPENDENTE
Antes de se lançar como artista independente, Araújo trabalhou durante cinco anos com a Warner Portugal, com quem teve uma “boa relação” e lançou os seus três primeiros álbuns com “total liberdade artística e criativa”, mas com o tempo tornou-se uma necessidade o “proprietário exclusivo” de seus direitos.
“Sou eu quem faz as músicas, quem escreve as letras, quem lida com as capas e para mim faz mais sentido ser o dono exclusivo”, não só por uma questão financeira, mas também pela risco de uma multinacional “mudar de mãos”, conta.
Ser independente permite que você não dê concertos se desejar, “faça a vida” no seu próprio ritmo.
“Tenho menos interesse em ter uma vida como tive nos anos em que dava 100 shows em um ano. Agora, talvez, vou dar 20 em um ano. Meu interesse em ficar indisponível por 150 dias não é tão muito mais. Prefiro dar menos concertos e melhor, mais focado”, vala.
Brian Bujalance.
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