‘Mania do debate’ toma conta eleitoral de Portugal

Susana Samhan

Lisboa, 23 de fevereiro (EFE).- Trinta debates em 18 dias. Portugal vive uma maratona de rostos eleitorais que culmina esta sexta-feira, que ao contrário de outros países, não são todos contra todos, nem entre os principais candidatos, mas antes curtas conversas bidirecionais em que todos os candidatos se revezam.

Do passado dia 5 de fevereiro até hoje, realizam-se 28 debates televisivos em formato dois e meio com dirigentes de vários partidos: no da passada terça-feira estavam as forças sem assento no Parlamento e no desta noite, os que têm assento.

Dada a salada de siglas políticas que existe, no um-a-um as combinações são múltiplas: não só os candidatos convocados para primeiro-ministro, o socialista Pedro Nuno Santos e o conservador Luís Montenegro, líder da Aliança Democrática ( AD), competiu. ; mas também os dirigentes do Chega, de extrema-direita, do Bloco de Esquerda, do animalista PAN, da Iniciativa Liberal (IL), do Partido Comunista Português (PCP) e do esquerdista Livre.

O diretor do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa, Ricardo Ferreira Reis, explicou à EFE que, segundo os dados de que dispõe, os debates “não têm grande impacto” nas decisões dos eleitores .

Ainda assim, “a perceção que temos dos dados é que esta multidão de debates está a criar uma imagem de cada um dos candidatos”, refletiu o especialista, que vê que o Montenegro poderá ser o mais beneficiado porque “foi bastante equilibrado e calmo na os sete debates que teve contra os outros partidos até segunda-feira.

O que ainda não se sabe é como a sua mudança de estratégia o terá afetado no jogo contra o seu grande rival, o socialista Santos, há quatro dias, já que não estava tão tranquilo e poderia ter perdido a imagem que construiu.

Na rua há uma disparidade de opinião entre os eleitores consultados pela EFE sobre a utilidade dos debates: Josélia, cozinheira, que fuma um cigarro durante um intervalo à porta do restaurante onde trabalha, na zona da Alameda de Lisboa, considera que são inúteis.

“Não vi nenhum, não gosto muito deles”, disse esta mulher, para quem é difícil as pessoas mudarem o rumo do seu voto depois de assistirem aos debates.

Diamantino, dono de um bar no bairro do Saldanha, acredita que são úteis para que as pessoas possam ter mais clareza caso tenham dúvidas, enquanto Nuno, um estagiário que vai votar pela primeira vez, está no meio. que achava que os debates poderiam ser melhores, “porque chega um ponto que você só vê uma discussão em que se tenta destruir o adversário ao invés de dar informação”.

Independentemente da sua utilidade, a verdade é que estes encontros são muito acompanhados: O de Santos e Montenegro, que foi transmitido simultaneamente em vários canais, teve uma audiência de 2,6 milhões de pessoas, o que equivale a 55,8% do ‘share’ total , segundo dados da Universal McCann (UM) publicados pela agência Lusa.

O resto também não tem baixa audiência. O debate entre o líder do Chega, André Ventura, e Santos teve em média 1,2 milhões de telespectadores, enquanto o de Montenegro com a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, foi de 1,1 milhões.

A professora da Oficina de Comunicação Política e Televisão da Universidade Autónoma de Lisboa, Isabel Damásio, acredita que existem dois tipos de eleitores na hora dos debates: os indecisos e os convencidos.

No caso dos ideologicamente convictos, “não sei se estes debates terão algum efeito por si só, porque se estudou que cada um de nós quando olhamos para a mesma coisa vê coisas diferentes”, explicou Damásio à EFE. .

Com os indecisos pode ser diferente: “As pesquisas dizem que há 15% de indecisos”, podendo chegar aos 20%, lembrou Damásio, para quem talvez neste grupo os debates possam ter alguma influência.

No entanto, lembrou que, segundo estimativas, serão cerca de 750 mil pessoas que decidirão o sentido do seu voto no dia das eleições, 10 de março. Tendo em conta que o último debate é hoje, a duas semanas dessa data, é possível que o impacto hipotético dos debates seja alterado por outros fatores nesse intervalo de tempo. EFE

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(foto)(vídeo)

Miranda Pearson

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