“Magalhães para o mundo inteiro!” a voz vibrante de Themis Mele podia ser ouvida no rádio.
Esse não era seu nome verdadeiro. Mas ele havia decidido que seu próprio Zulian Temístocles, acompanhado pelo Maracaibero Meleán, ainda mais alto, não era suficiente para apresentá-los em programas de rádio.
A verdade é que nunca houve um comentarista de beisebol tão tendencioso, ou com tanta fama, como Temis Mele. As pessoas o amavam. Onde quer que ele fosse, eles o aclamavam.
O time de beisebol Magallanes é uma parte muito importante da Venezuela. Tornou-se até uma espécie de passaporte valioso, principalmente na política. Por isso, mais de um candidato presidencial se declarou magallanero em plena campanha eleitoral, evidentemente buscando os votos dos magallaneros.
E o Magallanes foi o único time na história do beisebol que deu nome a um bairro.
Quando em outubro de 1917 vários jovens de um setor de Catia, Caracas, se reuniram com o proprietário português de uma vinícola, Antonio Benítez Abedanck, para organizar uma equipe, Benítez decidiu que a chamariam de Magallanes, em memória do navegador nativo português, Fernando de Magalhães.
Enquanto treinavam e jogavam num campo de uma determinada zona de Catia, começaram a dizer:
“Por ali, onde os Magalhães jogam.” E logo só diziam “no Magallanes de Catia”. É assim que o bairro popular é conhecido há mais de um século.
Geralmente, ao contrário, os Estados, cidades, vilas ou bairros dão seus nomes aos times, como New York Yankees, Real Madrid, Miami Heat, Leones del Caracas, Cardenales de Lara.
Agora, por que fundaram o time de Magalhães, que hoje é o mais antigo do esporte venezuelano?
Bem, porque do outro lado de Caracas, no leste, exatamente em Sarría, jogava o Royal Criollos e era o clube mais famoso do país.
Magallanes treinou em Catia pelo resto de 1917, para chegar ao campeonato de 1918 em boa forma. O primeiro jogo, já dentro do Campeonato Nacional, foi vencido pela equipe do Flor del Ávila, e o placar final foi de 20-6.
Aquele torneio não teve um final feliz, pois a gripe espanhola, que atacou duramente a Venezuela no final daquele ano de 1918, obrigou, como era lógico, a paralisação de todas as atividades esportivas.
Vários dos membros do Magallanes morreram vítimas dessa epidemia, incluindo o outfielder, José Vicente Mendoza e o único arremessador que tinha essa escalação, Luis Meneses.
A chegada a Valência mais o ‘Black Power’
Magallanes jogou profissionalmente no estádio San Agustín, que mais tarde foi a Cervecería de Caracas; no Universitario, em Oriente, até que, finalmente, antes do campeonato 1969-70, se fixou em Valência, onde chegou encabeçado pelo criollo, Dámaso Blanco e para fazer história com El Poder Negro, Clarence (Cito) Gaston, Don (Cabilla) Baylor e Dave (A Cobra) Parker.
Nas propriedades de Carabobo, são 54 anos de sucessos, mais do que fracassos. Numerosas figuras importantes do beisebol, venezuelanos, Vidal López, Luis (Camaleón) García e importados, apareceram na lista de Magallanes.
E é verdade que no início de cada campeonato na Venezuela, milhões de torcedores do beisebol esperam a vitória de Magalhães, como dizem as letras das guarachas: “Não há ninguém que vença Magalhães” e “Magalhães será campeão”.
É uma religião de Magalhães
Magalhães ganhou 13 campeonatos nacionais e duas Séries do Caribe. Além disso, é o time com mais seguidores.
Conforme relatado pela Wikipedia, 83,3% dos venezuelanos são apaixonados por beisebol e, desses, 28,38% são de Magalhães. O segundo time em número de torcedores é o Leones del Caracas, com 23,00%.
“Ser de Magalhães não é uma questão de esporte”, disse Temis Mele, “é uma religião muito bem fundamentada.”
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