Lula viaja a Portugal e Espanha em gesto de aproximação com a União Europeia

(Por correspondente) O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da SIlva, inicia amanhã a sua primeira digressão europeia com uma passagem por Portugal e Espanha, uma semana depois de se ter proposto como facilitador da paz na Ucrânia após a sua cimeira na China com o Presidente Xi Jinping e o encontro que manteve na segunda-feira em Brasília com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e depois da polêmica sobre suas declarações sobre a guerra.

Também está na agenda de Lula a aceleração das negociações para a assinatura do acordo comercial entre a União Européia (UE) e o Mercosul, informou o Palácio do Itamaraty.

Lula chegará a Lisboa na sexta-feira e no dia seguinte fará uma agenda oficial que incluirá um encontro com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, antigo aliado do Partido dos Trabalhadores (PT), que tinha uma relação tensa com o ex-presidente Jair Bolsonaro .

A visita de Lula à Península Ibérica ocorre após Bruxelas e Washington terem repudiado declarações do presidente brasileiro após visita à China, país que desde 2009 é o principal parceiro comercial do Brasil, desbancando os Estados Unidos, e para o qual Lula se compromete a liderar uma espécie de clube das nações pela paz na Ucrânia.

Lula reclamou que “a Europa e os Estados Unidos (como membros da OTAN) acabam contribuindo para a continuação dessa guerra na Ucrânia”, ao que a Casa Branca respondeu que o brasileiro “está reproduzindo propaganda russa e chinesa”.

Peter Stano, porta-voz de relações exteriores da UE, enfatizou que “os Estados Unidos e a UE estão trabalhando juntos como parceiros na ajuda internacional, ajudando a Ucrânia com exercícios de autodefesa contra a invasão russa”.

Depois que suas palavras também causaram revolta em Kiev, o presidente brasileiro afirmou que seu governo, além de defender uma solução negociada para o conflito, “condena a violação da integridade territorial da Ucrânia”.

É neste quadro que Lula procura relançar relações com dois dos principais investidores do Brasil, Portugal e Espanha, sobretudo económicos.

No sábado, Lula e seu homólogo português realizarão uma reunião ministerial de trabalho no Palácio de Belém, sede oficial do governo, informou a secretária para Europa e América do Norte do Itamaraty, María Luisa Escorel, em entrevista coletiva.

Escorel explicou que no encontro está a ser preparada a assinatura de dez acordos sobre educação, ciência e tecnologia, mineração, geologia, energia e saúde.

A agenda oficial segue na segunda-feira no Porto com um fórum empresarial luso-brasileiro com 150 executivos dos dois países e um acordo de comércio exterior.

Lula viajará do Porto para Lisboa na segunda-feira a bordo de um cargueiro KC-390 da construtora brasileira Embraer, a terceira maior do mundo depois da Boeing e da Airbus, um gesto simbólico após a compra de cinco dessas aeronaves por parte dos portugueses Forças Armadas.

Entretanto, o diplomata brasileiro explicou que o momento mais emocionante da visita será no Palácio de Queluz para a entrega do Prémio Camões, o mais alto prémio da literatura de língua portuguesa, ao cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque, atribuído em 2019.

Como Buarque é um militante de esquerda de longa data e amigo pessoal de Lula, em 2019 o direitista Bolsonaro, que defende a ditadura militar, recusou-se a assinar o diploma de premiação do Prêmio Camões.

Lula fará um discurso na terça-feira perante a Assembleia Nacional (Parlamento) ao receber uma homenagem na data emblemática para os portugueses, que relembra o dia em 1974 em que caiu a ditadura de Salazar por meio de um movimento cívico-militar conhecido como “a revolução dos Cravos”.

Em Madri e Lisboa, Lula defenderá o andamento das negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, que precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países, processo que parou em 2019.

“Para o Brasil, Portugal e Espanha são as portas naturais para a Europa”, disse Lula, que não participou este ano da Cúpula Ibero-Americana realizada no mês passado na República Dominicana, para a qual enviou seu chanceler Mauro Vieira, e deu prioridade a outros fóruns, como o retorno de Brasília à Celac e à Unasul.

Na terça-feira, em Madri, Lula pretende participar de um seminário que reunirá empresários brasileiros e espanhóis.

Terá ainda um encontro com o rei Felipe VI e na quarta-feira será recebido pelo Presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa.

Para o diplomata de Escorel, o acordo UE-Mercosul será um tema mais aprofundado em Madrid com Sánchez, até porque, no segundo semestre, a Espanha assumirá a presidência da UE e o Brasil fará o mesmo no segundo semestre. Mercosul.

Lula viaja para a Europa depois de, desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, ter percorrido seus principais parceiros comerciais, começando pela Argentina e Uruguai, passando pelos Estados Unidos e depois pela China. No último sábado, o presidente brasileiro também passou um dia nos Emirados Árabes Unidos. Após a visita aos países da UE, ele planeja uma passagem pela África em junho, onde pretende ativar o grupo BIC para a proteção das florestas tropicais entre Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo na República Democrática do Congo. (Telam)

Miranda Pearson

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