A polícia brasileira iniciou nesta terça-feira uma operação contra oito grandes empresários, próximos ao presidente Jair Bolsonaro, suspeitos de estarem ligados a uma rede que divulga notícias falsas e promove ataques a instituições. Os empresários procurados pelos agentes participam de um grupo de WhatsApp em que proliferam mensagens contra o Judiciário e a favor de um golpe de Estado caso Luiz Inácio Lula da Silva vença as eleições em outubro. “Prefiro um golpe à volta do PT (Partido dos Trabalhadores). Um milhão de vezes”, escreveu José Koury, empresário imobiliário do Rio de Janeiro, há três semanas. A operação inclui buscas domiciliares, bloqueio de contas de redes sociais e fiscalização de suas contas bancárias.
O mais conhecido dos procurados é o bilionário Luciano Hang, dono da Havan, rede de lojas de departamento espalhadas pelo Brasil que são facilmente identificáveis porque uma réplica da estátua da liberdade fica na entrada. Han é um orgulhoso bolsonarista. Entre os suspeitos estão os donos das construtoras Tecnisa e W3, dono de uma rede de restaurantes chamada Cocobambu, dono de uma rede que vende móveis.
A operação virou notícia do dia em um Brasil que já está oficialmente em campanha para o duelo mais acirrado das últimas décadas. O eleitorado é convocado para votar no dia 2 de outubro nas eleições que são um heads-up entre o esquerdista Lula, o favorito, e o atual presidente, de extrema direita, que fecha a lacuna.
As mensagens privadas trocadas pelos empresários bolsonaristas foram revelado há alguns dias pelo meio digital metrópoles. Hang confirmou no Twitter que a polícia apareceu em sua empresa às seis da manhã e negou que tenha falado de repente no grupo de WhatsApp mencionado. O senador Flávio Bolsonaro tuitou que “é uma loucura mandar buscar empresários honestos (…) por dizerem que preferem qualquer coisa ao ex-presidiário”, em referência a Lula, cujas sentenças foram anuladas.
É uma loucura determinar a busca e apreensão de empresários honestos, que criaram milhares de empresas, alguns conhecidos como ministros do STF (que sabiamente jamais tramariam um “golpe” em primeiro lugar) por dizerem que preferem qualquer coisa a um ex-prisioneiro, uma conversa privada no WhatsApp.
– Flavio Bolsonaro #B22 (@FlavioBolsonaro) 23 de agosto de 2022
O mandado de busca aos bolsonaristas é assinado pelo homem que Bolsonaro e seus seguidores mais fiéis consideraram nos últimos tempos como inimigo número um e com quem aparentemente houve uma trégua, o juiz Alexandre de Moraes. O magistrado é membro do Supremo Tribunal Federal – a instituição que mais contrabalança as ameaças autoritárias de Bolsonaro – e acaba de assumir a presidência do Tribunal Eleitoral, que fiscaliza o processo de votação.
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O medo de um golpe -mais na forma de uma ruptura constitucional do que uma tomada do tanque- está presente no debate público brasileiro há muito tempo devido aos constantes ataques do presidente a outras instituições e sua campanha para semear dúvidas sobre o processo de votação .
O presidente Bolsonaro foi entrevistado ontem à noite em Jornal Nacional, o telejornal noturno da Rede Globo, o mais visto no Brasil. Um dos entrevistadores o encorajou a se comprometer, diante dos milhões de espectadores que o viram ao vivo, a respeitar os resultados das eleições. Bolsonaro aceitou, mas com um slogan: vai aceitar o veredicto de “eleições limpas e transparentes”, como se não fossem agora. As autoridades eleitorais nunca detectaram nenhuma fraude relevante no sistema de urnas eletrônicas, que segundo Bolsonaro não é 100% seguro. As Forças Armadas têm estado plenamente envolvidas na supervisão do processo eleitoral.
Também causa preocupação na liderança de outras instituições, na oposição e na imprensa brasileira que Bolsonaro tenha convocado seus seguidores para encher as ruas em 7 de setembro, quando o Brasil comemora o bicentenário de sua independência. Dado que no ano passado o presidente de extrema-direita já transformou o aniversário em uma demonstração de força popular e chamou o juiz Moraes de canalha diante de uma multidão, muitos analistas consideram que o partido da independência pode ser mais um passo sério na escalada autoritária. Para comemorar a data, o presidente conseguiu que Portugal lhe emprestasse o coração de Pedro I, imperador que proclamou a independência em 1822.
O corpo, que chegou na segunda-feira em um avião militar brasileiro, será homenageado na terça-feira por Bolsonaro e apresentado a embaixadores estrangeiros antes de ser exposto até o Bicentenário na sede do Itamaraty, também em Brasília.
Embora o líder de extrema-direita tenha conquistado apoio nas últimas semanas, Lula lidera todas as pesquisas. A mais recente pesquisa do Datafolha dá ao favorito uma intenção de voto de 47%, contra 32% de Bolsonaro. Lula estava convencido nesta segunda-feira de que o Brasil não sofrerá um assalto como o realizado por centenas de apoiadores de Donald Trump no Capitólio. “Tenho certeza de que o resultado eleitoral será plenamente aceito”, disse o ex-presidente a correspondentes estrangeiros em São Paulo. “Quem perde tem o direito de reclamar, mas paciência, faz parte do jogo”, acrescentou.
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