Frederico Pinheiro, assessor especializado da companhia aérea TAP dos dois ministros das Infraestruturas de Portugal desde 2019, Pedro Nuno Santos e João Galamba, fez esta tarde um relato devastador tanto para a figura do atual ministro como para a sua equipa mais próxima. Na comissão parlamentar de inquérito à gestão política da TAP, nacionalizada no final de 2021 para evitar a sua falência, Pinheiro declarou que…
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Frederico Pinheiro, assessor especializado da companhia aérea TAP dos dois ministros das Infraestruturas de Portugal desde 2019, Pedro Nuno Santos e João Galamba, fez esta tarde um relato devastador tanto para a figura do atual ministro como para a sua equipa mais próxima. Na comissão parlamentar de inquérito à gestão política da TAP, nacionalizada no final de 2021 para evitar a sua falência, Pinheiro declarou que João Galamba o despediu por telefone com termos “impróprios” e confirmou, conforme publicado pela revista visto, que o ameaçou com “dois socos”. Segundo Pinheiro, o presidente disse a ele: “Não estou demitindo você pessoalmente porque, se o fizesse, ainda lhe daria dois socos”.
Pinheiro foi acusado pelo responsável das Infraestruturas de se recusar a entregar as notas informais sobre as reuniões estratégicas para a comissão parlamentar, de se apropriar do computador portátil de trabalho apesar de ter sido despedido e de ter agredido alguns colegas do Ministério das Infraestruturas que tentaram evitar sair o computador. O testemunho de seu ex-colaborador está nos antípodas. “Eu sou a vítima e não o agressor”, disse Pinheiro.
Segundo seu relato, após ser demitido por telefone, ele resolveu ir até a sede para buscar objetos pessoais, além do notebook oficial. “Ninguém me proibiu de entrar, não ataquei ninguém, me livrei de quatro pessoas [la jefa de gabinete del ministro, Eugenia Correia, dos asesoras de prensa y una técnica] que me agarrou e tentou levar minha mochila numa situação absurda e surreal. Eu me soltei em legítima defesa. Fui eu que chamei a polícia. Não quebrei nenhum vidro com minha bicicleta ou com qualquer outro objeto. Não corri, não roubei. São declarações falsas, caluniosas e difamatórias”, afirmou. “Infelizmente, sinto que nossos líderes políticos não respeitam os princípios básicos do estado de direito”, acrescentou.
Não só Galamba, mas também o primeiro-ministro António Costa acusou o ex-assessor de furto do portátil e de uso de violência contra ex-colegas. Pelo sucedido, Galamba apresentou uma demissão rejeitada por Costa com esmagador apoio público, o que provocou uma significativa fractura na tradicional concórdia que mantinha até então com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, partidário da saída de Galamba do o governo.
Após a briga entre Pinheiro e os ex-colegas, o assessor descobriu que não poderia deixar o ministério. “Percebi que me tinham trancado dentro do prédio e fui eu que chamei a polícia, e faço-o porque sou o agredido e não o agressor”, disse o colaborador, que garantiu ainda ter um relatório médico com os vestígios desse confronto. Quatro agentes em pessoa facilitaram a saída do ex-funcionário, que acabaria por entregar o portátil nessa mesma noite a um espião do Serviço de Informação e Segurança (SIS) após cópia de documentos pessoais e também das notas das reuniões da TAP de interesse para a Comissão.
A intervenção dos serviços secretos é mais um dos aspetos polémicos desta história, já que muitos especialistas consideram que se tratou de uma ação irregular. Pinheiro declarou que se sentiu ameaçado pelo espião, que recomendou que entregasse o computador “de vez” e que confessou estar a receber muita pressão “de cima”.
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Antes da ligação do espião, o ex-colaborador escreveu um e-mail ao ministro e ao chefe de gabinete se oferecendo para devolver o laptop e o celular do trabalho. Telefone na mão, Pinheiro garantiu à comissão: “Três semanas depois, ninguém respondeu a este email”. “Toda a coerção foi direcionada para recuperar o laptop. O objeto não era a cobrança, mas sim a intimidação de um simples cidadão”, sustentou o ex-assessor, que sublinhou que o telemóvel oficial que ainda está na sua posse é um “pequeno computador” onde também se guardavam os documentos confidenciais da TAP , que segundo o Governo, justificaram a operação de resgate do portátil. Pinheiro entregou o telefone à comissão parlamentar, que vai colocá-lo nas mãos da Polícia Judiciária para tentar recuperar informação apagada por informáticos do Ministério da A infraestrutura.
Além do relato do ocorrido no ministério, Pinheiro acusou Eugénia Correia de ter dado instruções para não fornecer à comissão de inquérito as notas que o deputado tinha feito durante as duas reuniões organizadas para preparar a intervenção da presidente da TAP, Christine Ourmières- Widener, na comissão de economia da Assembleia da República. O primeiro encontro, mantido em segredo durante três meses, realizou-se a 15 de janeiro entre Galamba e o presidente da TAP. A segunda, no dia seguinte, reuniu parlamentares socialistas, funcionários do Ministério das Infraestruturas e Christine Ourmières-Widener para acertar perguntas e respostas sobre uma próxima aparição parlamentar. Segundo Pinheiro, a participação da diretoria da companhia aérea naquela reunião foi sugerida pelo ministro, embora a versão que a Infraestrutura divulgou no início de abril seja de que foi uma iniciativa do presidente.
A divulgação perante a comissão das anotações que Pinheiro fez de ambas as reuniões foi o que desencadeou sua demissão e o episódio surreal que se seguiu. O conselheiro insistiu esta tarde na sua versão de que a vontade inicial do chefe de gabinete era não fornecer as notas das reuniões, ao contrário do que sustenta o chefe das Infraestruturas, João Galamba, que acusou o ex-assessor de não querer fornecer eles. Na sua presença de cinco horas, Pinheiro revelou ainda que, antes da demissão, foi solicitado ao seu telemóvel para verificar as comunicações que mantinha com a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, e que um técnico informático apagou o registo de chamadas e mensagens anteriores a 6 de abril, por despacho do chefe de gabinete.
As próximas presenças agendadas na comissão de inquérito são as da chefe da Casa Civil, Eugénia Correia, e do ministro das Infraestruturas, João Galamba, que falarão na tarde de quinta-feira.
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