Lisboa, 04 mar (EFE).- Dezenas de milhares de professores voltaram hoje às ruas nas duas maiores cidades de Portugal, Lisboa e Porto, para exigir melhorias laborais e salariais, bem como a recuperação de anos de antiguidade congelados com a tróica .
Convocados por nove sindicatos sob o lema “Respeitar os professores. Valorizar a profissão”, os professores retomaram os protestos após meses de greves e passeatas massivas, que em alguns casos ultrapassaram 100 mil participantes.
Este sábado, 80 mil professores de todo o país juntaram-se aos protestos em Lisboa e no Porto, segundo o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira.
Em Lisboa, a marcha partiu da central praça do Rossio e percorreu a capital até às portas da Assembleia da República, entre apitos, roupa preta em sinal de luto, cravos e faixas criticando as propostas apresentadas até ao momento pelo Governo socialista.
CANSADO E DESCONTENTADO
O sentimento era comum: eles estão “fartos” e “cansados”.
“Chegámos a um ponto em que nos cansámos”, disse à EFE Cristina, professora há mais de 27 anos na Quinta do Conde, a cerca de 30 quilómetros a sul de Lisboa, para quem “Portugal estagnou na educação” e que os professores ‘ movimento voltou a ganhar força nos últimos meses.
Ricardo, professor de artes plásticas de Lisboa, também se juntou à marcha na capital. à EFE.
Depois de anos de luta, eles agora se sentem mais próximos do que nunca.
“Os sindicatos estão conseguindo unir os professores de uma forma que até agora não conseguiram. Temos milhares e milhares de professores nas ruas, coisa que nunca existiu, e as lutas acontecem de norte a sul do país o país com total harmonia. Os professores não vão parar enquanto não se sentirem respeitados”, disse Ricardo.
RECUPERAR TEMPO DE SERVIÇO
Entre as principais reivindicações está a recuperação do tempo de serviço que consideram “roubado”, depois de entre 2005 e 2018, em duas fases distintas, terem sido congelados nove anos de carreira, que não contavam na sua antiguidade para cálculo salarial.
O Governo já devolveu mais de dois anos desse total, mas os professores exigem a recuperação dos quase seis anos e meio que ainda estão pendentes.
Denunciam também a precariedade – “somos professores há 15 ou 20 anos e não temos vínculo fixo com o Estado”, criticou Ricardo – e o modelo de recrutamento de professores, que está a ser negociado com o Ministério da Educação.
O Governo propôs um novo modelo que vai permitir a permanência este ano de mais de 10.000 docentes e reduzir as distâncias na atribuição de vagas à sua residência habitual, que até agora pode atingir os 244 quilómetros.
Há uma nova negociação com os sindicatos marcada para 9 de março e “muitas aproximações” entre as duas partes, segundo o ministro da Educação português, João Costa.
Mas dentro do sindicato, nem todos veem no Executivo a “vontade” de encontrar soluções.
É o caso de Carlos, professor de uma escola da periferia da capital. “Há duas possibilidades: ou você não conhece a realidade dos problemas ou conhece e tenta ignorá-la. Não há uma vontade séria de corrigir os problemas que existem”, disse à EFE.
(c) Agência EFE
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