Uma investigação realizada em cinco países da América Latina e Europa analisou cardápios infantis em praças de alimentação. O Dr. Samuel Durán, acadêmico da Universidade San Sebastián e que desenvolveu o estudo no Chile, explica os fatores que colocam o país como o pior em termos de oferta insalubre.
A nutrição infantil é um grande desafio para a saúde pública em nível internacional. A prevalência de obesidade em meninos e meninas aumentou em todo o mundo, impulsionada por estilos de vida cada vez mais sedentários, dietas ricas em calorias e com poucos nutrientes. O Chile lidera os piores cardápios infantis de fast food, concluiu o estudo.
Por isso, pesquisadores do Brasil, Chile, Croácia, Hungria e Portugal analisaram 192 cardápios infantis em praças de alimentação de suas capitais, para saber o que as crianças estão comendo quando vão ao shopping.
O estudo conclui que em nenhum dos países existe hoje uma oferta saudável de alimentos para crianças. Os dados são alarmantes: mais de 75% dos restaurantes oferecem cardápios compostos principalmente por alimentos processados, frituras e açúcares.
Liderado pela Universidade do Porto (Portugal), o estudo no Chile foi realizado pela Universidad San Sebastián. Samuel Durán -PhD em Nutrição e diretor do USS Master in Nutrition in Public Health- realizou a pesquisa.
Bem ali foram analisados os cardápios infantis disponíveis em 66 restaurantes de diferentes shoppings da capital. Tanto fast food quanto “não tão rápido”, referindo-se a restaurantes italianos e asiáticos.
Para calcular a qualidade nutricional dos cardápios oferecidos, o índice Pontuação Saudável do Menu Infantil, metodologia que avalia os componentes oferecidos. Como a fonte de proteína, acompanhamentos, legumes, sobremesas e bebidas, além de informações nutricionais e alérgenos.
Chile lidera piores cardápios infantis de fast food entre 5 países estudados
Em termos gerais, Chile e Hungria oferecem os cardápios infantis menos saudáveis entre os países estudados. No entanto, explica o Dr. Durán, “na Hungria, pelo menos, existem alternativas um pouco mais saudáveis. Já no Chile, o restaurante que atingiu o nível mais alto atinge apenas 2,5 pontos” em uma escala que vai de -17 a 17. E onde pouco mais de 5 pontos pode ser considerado “um pouco saudável”. Em outras palavras, tudo o que é entregue no Chile para crianças não é saudável”.
Entre os itens analisados, por exemplo, Chile aparece com oferta zero de leguminosas e zero sopas, em comparação com outros países que os oferecem em seus menus. Também não temos opções para crianças com alergias alimentares, nem temos informação nutricional disponível, algo que os outros países do estudo têm.
Dentro de os alimentos que mais aparecem nos cardápios são as carnes vermelhas (94%), que, embora sejam uma boa fonte de proteína, ferro e vitamina B12, em excesso podem ter consequências negativascomo doenças cardiovasculares, diabetes e outras doenças crônicas, além do risco aumentado de sofrer algum tipo de câncer.
Quanto às sobremesas, não temos opções de frutas (0%), e temos o segundo lugar como país com maior oferta de doces com alto teor de açúcar (ligeiramente abaixo de Portugal, que lidera com 39%, contra 36% no Chile).
O mesmo vale para as bebidas. onde não mais de 5% das instalações têm opção de água, sendo as bebidas açucaradas o principal líquido dado às crianças. “O consumo de bebidas açucaradas aumenta a cárie dentária, aumenta o risco de obesidade e outros problemas de saúde associados”, diz Durán.
O estudioso diz que Os alimentos fritos – o conteúdo mais disponível nos cardápios infantis chilenos – fornecem uma grande quantidade de lipídios e gorduras saturadas que alteram negativamente o corpo, portanto, é necessário reduzir o seu consumo. “As crianças não devem ser expostas a grandes quantidades de frituras, nem devem consumi-las com a mesma frequência que agora”, alerta o acadêmico.
A única coisa boa dos resultados no Chile, diz o Dr. Durán, é que aqui não há brinquedos grátis com junk food. Isso graças à Lei de Rotulagem de Alimentos.
Recomendações para melhorar
Nesse sentido, Durán garante que atualização da lei é urgente. “Embora a Lei de Rotulagem tenha ajudado, ela não se preocupa em incentivar alimentos mais saudáveis para as crianças, por isso são necessárias mudanças regulatórias exequíveis, como em outras partes do mundo.”
A pesquisa aponta para a necessidade de melhorar a disponibilidade de alimentos, com o objetivo de promover hábitos saudáveis entre meninos e meninas. Quanto às proteínas, recomenda-se uma maior disponibilidade de pescado, não só carnes vermelhas e processadas.
Quanto aos acompanhamentos, sugere opções de palitos de legumes em vez de batatas fritas. Ou coloque metade batata frita e metade cenoura, aipo ou pepino, por exemplo.
“Em outras palavras, podem ser encontradas opções para que essa refeição ocasional seja mais consciente e menos prejudicial possível”, diz o acadêmico e ex-presidente do Colégio de Nutricionistas.
Duran também alerta que restaurantes devem ter água grátis para crianças, para reduzir a ingestão de bebidas açucaradas. E quanto às sobremesas, frutas picadas (não inteiras) poderiam ser entregues para incentivar as crianças mais novas a escolherem.
De acordo com Dados JUNAEB, Mais da metade das crianças em idade escolar no Chile estão com sobrepeso ou obesasque se agrava nos primeiros níveis de ensino, chegando a 29,5% de obesidade na Educação Infantil.
Por isso, Durán alerta ainda que é fundamental melhorar a qualidade da educação em torno da alimentação, principalmente de casa. “Cada vez mais, as famílias estão comendo em lugares de junk food ou fazendo pedidos por meio de aplicativos de entrega. Então, esses hábitos são incorporados nas crianças desde muito cedo, e a educação nutricional adequada não é alcançada”, afirma.
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