BRASÍLIA, 22 Jan (Reuters) – O Ministério da Saúde do Brasil declarou uma emergência médica no território Yanomami, a maior reserva indígena do país e na fronteira com a Venezuela, após relatos de crianças morrendo de desnutrição e outras doenças causadas pela mineração ilegal de ouro.
Um decreto publicado na sexta-feira pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o objetivo da declaração era restaurar os serviços de saúde para o povo Yanomami que havia sido desmantelado por seu antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro.
Nos quatro anos da presidência de Bolsonaro, 570 crianças Yanomami morreram de doenças tratáveis, principalmente desnutrição, mas também malária, diarreia e malformações causadas pelo mercúrio usado por garimpeiros ilegais, informou a plataforma de notícias local Sumauma, citando dados obtidos por uma FOIA.
Lula visitou um posto de saúde Yanomami em Boa Vista, em Roraima, no sábado, após a divulgação de fotos que mostravam crianças e idosos, homens e mulheres, tão magros que deixavam à mostra as costelas.
“Mais do que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio: um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento”, disse Lula no Twitter.
O governo anunciou que cestas básicas serão enviadas para a reserva onde vivem cerca de 26.000 Yanomami em uma região de floresta tropical e savana tropical do tamanho de Portugal.
A reserva é invadida por garimpeiros ilegais há décadas, mas os ataques se multiplicaram desde que Bolsonaro assumiu o cargo em 2018, prometendo permitir a mineração em terras anteriormente protegidas e se oferecendo para legalizar a atividade.
Também há indícios de envolvimento do crime organizado. Em incidentes violentos recentes, homens em lanchas em rios dispararam armas automáticas contra povos indígenas cujas comunidades se opõem à entrada de garimpeiros.
Alguns garimpeiros começaram a sair por medo de operações policiais do governo Lula e parecem estar cruzando a fronteira com os vizinhos Guiana e Suriname, disse Estevão Senra, pesquisador do Instituto Socioambiental, ONG que defende os direitos indígenas. .
Lula disse que o novo governo acabará com a mineração ilegal de ouro e reprimirá o desmatamento ilegal na Amazônia, que atingiu seu ponto mais alto em 15 anos sob o governo de Bolsonaro.
“Devemos responsabilizar o governo anterior por permitir que essa situação se agravasse a ponto de encontrar adultos com peso de criança e crianças reduzidas a pele e osso”, disse Sonia Guajajara, a primeira mulher indígena a ocupar o cargo de ministra, à frente de um novo Ministério de Assuntos Indígenas. (Reportagem de Anthony Boadle. Edição em espanhol de Marion Giraldo)
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