O Real Madrid escapou do interior da rocha granítica onde se encontra o estádio do Braga com mais desconforto do que suspeitava, depois de mastigar um rival que sempre prolongou os jogos da Liga dos Campeões até à última linha do cronómetro. A equipa de Ancelotti ampliou o total de vitórias no seu grupo da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e está próxima dos oitavos de final, mas deixou Portugal, já com o clássico de sábado em vista, com a preocupação do desconforto com que saiu de campo Jude Bellingham, que também ampliou seu total de gols: três em três jogos. O Real venceu por pouco, quando a perspectiva inicial levava a pensar que aconteceria de outra forma.
Não foi fácil saber para quem o plano do Braga era mais uma armadilha, com uma defesa muito avançada, pensando sempre em lançar para a baliza de Kepa. À primeira vista, imprudência. Vinicius ia atacá-los, com uma terrível série de corridas em campo aberto. Mas talvez tenha sido também uma isca para provocar a pressa do Real Madrid, constantemente convidado a buscar recompensa no galope do brasileiro.
Ele buscou esse caminho desde muito cedo, começando com dois passes diagonais de Rüdiger desde seu pequeno monte na retaguarda. Essas remessas não chegaram ao Vini, mas anteciparam as intenções da equipe, muito tentada com o convite.
O Braga já tinha sofrido muito na jornada anterior na visita ao Unión Berlin, que explorou aquele campo nas costas dos defesas e chegou a vencer por 2-0. Embora os portugueses tenham acabado por voltar. Esta é uma equipa que dificilmente se permite uma pausa na procura do golo rival. Os líbios Al Musrati e Zalazar, filho do famoso meio-campista do brilhante Albacete de Benito Floro, pressionam pelo meio. E o sueco Jo Mendes pela direita e o colombiano Cristian Borja pela esquerda aceleram por fora. Sem muita circunlocução. Até que assustou Kepa na sua área, aliviado pelos bloqueios de Bellingham e Rüdiger.
O Madrid suportou o entusiasmo da equipa de Artur Jorge à espera do passe final, enquanto Camavinga manteve o centro do campo desta vez como médio, acompanhado pelos enérgicos Valverde e Luka Modric, que tentaram misturar um pouco as operações. Mas a partida foi de golpes diretos e, enquanto o croata afirmava mastigar o jogo, Nacho mais uma vez buscou a corrida de Vinicius, que pegou a bola um metro à frente de Serdar. Mas ele se enroscou no avanço em direção ao gol e o zagueiro recuperou a posição. Desde que voltou da lesão, o brasileiro não terminou de fluir como antes. Porém, ele enganou o zagueiro turco e colocou a bola onde Rodrygo chegava com Niakaté. Depois de dois meses e quase mil minutos, o brasileiro voltou a marcar. Um alívio.
Embora o jogo tenha demorado um pouco para se transformar. O panorama de um Madrid expectante e direto, e de um Braga espirituoso, manteve-se. E à medida que avançava, Vinicius foi se aprimorando e Serdar amadureceu, exigido repetidas vezes pelo brasileiro, que era incansável em seus esforços, apesar de não encontrar muitas saídas em seus dribles, outrora tão esclarecedores. Mas algo foi anunciado ali, porque o brasileiro se encontrava cada vez com mais frequência com Bellingham.
A passagem pelo vestiário trouxe uma fase em que o Real Madrid passou um pouco mais de tempo se preparando. Ele então dominou com a bola, depois de ter feito isso controlando o espaço, observando por trás esperando que o terreno baldio se abrisse atrás da defesa. De qualquer forma, quando ele bateu de novo, ele bateu de novo na corrida. Valverde leu ao milímetro a desmarcação de Rodrygo, quase em linha, com um zagueiro. A passagem dele para o outro lado quase escapou de Vinicius. Mas ele aguentou e encontrou Bellingham no limite. Seu chute teve precisão cirúrgica, e com essa precisão ele estendeu sua trajetória letal de metrônomo: três jogos na Liga dos Campeões com o Madrid, três gols.
O gol causou algo inesperado: em vez de baixar a cabeça, o Braga mexeu. A resposta, quase instantânea, foi dada por Álvaro Djaló, futebolista de 24 anos, natural de Madrid, criado em Bilbau e de nacionalidade guineense, que emigrou para Portugal ainda jovem. Ainda lhes restava vida, e Artur Jorge ainda tinha armas no banco: apresentou dois avançados, Bruma e o espanhol Abel Ruiz, nove da equipa sub-21. Seguiu-se uma troca de golpes em que um remate muito próximo de Horta acertou em Kepa. Ancelotti não conseguiu reprimir a rebelião nem mesmo utilizando Mendy e Tchouameni, Rodrygo e Fran García, algo inseguro na defesa. Apesar disso, Abel Ruiz e Vinicius voltaram a marcar. Da troca, o Madrid ainda saiu como líder do grupo, mas com as dúvidas de Bellingham para o clássico.
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