Acesso à tecnologia em discussão no G20

SAÚDE

O Sistema Único de Saúde do Brasil é um exemplo de como um país do Sul Global está ajudando a melhorar o acesso universal e a qualidade dos serviços para a população. A presidência brasileira do G20 destaca a telemedicina, a análise de dados e a equidade nos avanços tecnológicos em saúde como desafios na era digital.

03/06/2024 7:00 – Modificado há 2 meses

O futuro da saúde em discussão no G20. Crédito: Getty Images

O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil é o maior serviço público de saúde do mundo e modelo para diversas nações, como exemplo de racionalização do uso de recursos para o atendimento da população. Estudo divulgado em abril pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o país gasta 9,7% do PIB (Produto Interno Bruto) com saúde. Os Estados Unidos destinam cerca de 18% do PIB para oferecer acesso quase exclusivo a quem tem plano de saúde, deixando uma parcela considerável da população sem direito à assistência médica.

Diante do desafio de promover equidade e resiliência nos serviços, o Grupo de Trabalho de Saúde do G20, sob a presidência do Brasil, destacou o papel da saúde digital, refletindo um movimento global em direção a uma assistência à saúde mais dinâmica e inclusiva.

Países-membros do G20, como Austrália, Canadá e Portugal (este último como convidado), que também baseiam sua assistência à saúde na atenção primária, já avançaram na modernização da rede, implementando ações como prontuários eletrônicos, por exemplo, permitindo a regulamentação e o processamento de dados e uma produção eficiente.

A proteção de dados de saúde é uma preocupação comum que exige políticas e regulamentações robustas com efeitos transfronteiriços para garantir a privacidade do paciente e a segurança das informações. O acesso equitativo aos serviços de saúde digitais continua sendo um desafio, especialmente para populações em áreas rurais, marginalizadas ou com pouca tecnologia. Garantir a interoperabilidade entre diferentes sistemas de saúde digitais e estabelecer padrões comuns de dados continua sendo um desafio para a integração e o compartilhamento de informações.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Saúde Digital como “a aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação à Saúde”, incluindo os conhecimentos e práticas desta área do conhecimento que “contribuem para agilizar o fluxo de atendimento, qualificar as equipes de saúde e tornar mais efetivo o fluxo de informações para subsidiar a tomada de decisão em saúde, cuja complexidade envolve tanto a tomada de decisão clínica, como a vigilância sanitária, a regulação e promoção da saúde e a gestão”.

Algumas dessas ações de saúde digital incluem a telemedicina, que permite consultas médicas remotas por meio de videochamadas, mensagens de texto e e-mails; o prontuário eletrônico, que é a versão digital do histórico médico do paciente; e aplicações como o uso de inteligência artificial e a análise de grandes volumes de dados com a tecnologia blockchain, usada para garantir a segurança e a privacidade dos dados de saúde e facilitar a troca segura de informações.

O aumento do acesso à assistência médica está revolucionando a maneira como os serviços médicos são acessados ​​e prestados. A expansão da telemedicina, a integração de dados e o uso de inteligência artificial estão entre as principais tendências que moldam o futuro da assistência médica. A infraestrutura para armazenar, processar e proteger dados, bem como garantir que os países tenham acesso às tecnologias, continuam sendo pontos de debate e ação dentro do G20.

A Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde do Brasil, Ana Estela Haddad, ressaltou a importância de incluir a Saúde Digital nas discussões do fórum e destacou o lançamento do programa SUS Digital pelo Governo Brasileiro. “Os três níveis da federação – estados, municípios e União – estão mobilizados para realizar a transformação digital do SUS”, explicou Ana Estela, destacando que todo o país está comprometido com essa transformação digital do sistema.

Experiências Internacionais

A Austrália é conhecida por suas iniciativas avançadas de saúde digital, incluindo a implementação bem-sucedida de registros eletrônicos de saúde e programas de telemedicina. O país está explorando tecnologias como inteligência artificial e análise de dados para melhorar a prestação de serviços de saúde e a eficiência do sistema. Para a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Maria Ressa (que participou de um evento paralelo do WG sobre Economia Digital), o principal desafio para os países e a comunidade internacional é estabelecer regulamentações para que a tecnologia não seja uma ameaça e que os dados da comunidade sejam de propriedade de pessoas e não de empresas.

O Canadá está investindo em uma infraestrutura robusta para dar suporte à saúde digital em todo o país, como o uso de registros eletrônicos de saúde interoperáveis, que permitem que os dados sejam acessados ​​e compartilhados em todo o sistema de saúde pública. Essa estrutura melhora o monitoramento e a notificação de casos suspeitos e confirmados, define o melhor tratamento e facilita o desenvolvimento de aplicativos que beneficiam a população, garantindo maior acessibilidade e eficiência nos serviços de saúde.

A União Europeia (UE) promove a interoperabilidade dos sistemas de saúde digitais entre seus países-membros e facilita a troca segura de informações de pacientes. A UE se concentra na regulamentação e proteção de dados de saúde para garantir a privacidade e a segurança dos usuários na comunidade. Convidado pela presidência brasileira do G20, Portugal investe em soluções digitais como telemedicina e análise de dados de saúde em larga escala. Essas iniciativas são importantes para enfrentar os desafios de acesso à saúde em áreas remotas.

A proteção de dados de saúde é uma preocupação comum que exige políticas e regulamentações robustas com efeitos transfronteiriços para garantir a privacidade do paciente e a segurança das informações. O acesso equitativo aos serviços de saúde digitais continua sendo um desafio, especialmente para populações em áreas rurais, marginalizadas ou com pouca tecnologia. Garantir a interoperabilidade entre diferentes sistemas de saúde digitais e estabelecer padrões comuns de dados continua sendo um desafio para a integração e o compartilhamento de informações.

Transformando a saúde brasileira

Com o apoio de 5.564 municípios, o programa SUS Digital promove a transformação digital do sistema de saúde brasileiro. A iniciativa amplia o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde por meio da tecnologia e promove uma abordagem mais integrada e eficiente para o atendimento à saúde. O programa também abrange monitoramento e avaliação de dados, sistemas de informação, plataformas e desenvolvimento de aplicativos.

Os profissionais se comunicam pela plataforma de telemedicina e podem trocar informações técnicas relacionadas ao atendimento, “o pequeno município (e há muitos no Brasil) depende de serviços especializados. Uma pessoa atendida em determinado local pode ser diagnosticada por um especialista que está em outro município, e o médico de família pode solicitar apoio de uma especialidade que está em outro centro”, explicou Tiago Bahia, coordenador de Disseminação e Integração de Dados e Informações do Ministério da Saúde do Brasil.

O Ministério da Saúde oferece o ambiente tecnológico onde os profissionais interagem, mediados por vídeo ou áudio, para esclarecer questões clínicas do paciente, o que agiliza o atendimento. Para a Bahia, o processo evita gastos desnecessários, “pois evita que a pessoa saia de sua cidade para outra em busca de esclarecimento de dúvidas clínicas em um deslocamento que não é fácil nem confortável para o paciente e pode ter custos para o município”.

Segundo Bahia, a experiência do Brasil em prover assistência médica universal aos seus 200 milhões de habitantes faz com que o país possa falar adequadamente sobre o tema no G20. “Temos dimensões continentais, com alto nível de complexidade, o que reflete um grau de desigualdade existente em vários países do mundo. Nossa experiência mostra uma curva de aprendizado sobre como organizar ações e serviços de saúde. O SUS é um ativo que pode servir de referência para outros países”, argumentou.

Nesse sentido, aumentar o acesso à saúde representa não apenas um avanço tecnológico, mas também uma oportunidade de transformar positivamente a vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. A transformação digital na saúde ganha destaque nas discussões do G20, revelando experiências e desafios compartilhados em meio à busca por sistemas de saúde mais resilientes, sustentáveis ​​e inclusivos.

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Eloise Schuman

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