A saúde mental dos adolescentes, a quarta vaga da pandemia em Portugal

Este conteúdo foi publicado em 07 de março de 2021 – 09:42

Andrea Cavaleiro de Mingo

Lisboa, 7 de março (EFE).- Vasco Prazedes, 21 anos, passa a manhã em Oeiras, nos arredores de Lisboa, a tirar fotografias no mar com a sua câmara subaquática. Acabaram de reabrir as praias em Portugal para a prática de desporto e ele agradece porque “ajuda as pessoas a distraírem-se disto”.

Com ‘isto’ refere-se ao segundo confinamento geral em Portugal, que começou a 15 de Janeiro e vai durar pelo menos até 16 de Março, e que para ele “foi muito pesado, muito duro e muito difícil”.

A sensação de peso do Vasco castiga milhões de jovens e, concordam os especialistas, resultou em um aumento significativo de depressão, ansiedade e distúrbios alimentares.

No hospital Dona Estefania, em Lisboa, por exemplo, o número de adolescentes que solicitaram informações sobre ansiedade e depressão aumentou 50% em relação ao ano passado, e no Centro Hospitalar São João, 76% dos jovens atendidos pediram ajuda para tratar sintomas semelhantes.

Desde o final do ano passado, a taxa de depressão entre os adolescentes portugueses, que era de cerca de 8% antes da pandemia, “duplicou para 14%”, disse à Efe Ana María Matos, psicóloga da Universidade de Coimbra.

Matos participou num estudo, em conjunto com as universidades de Emory e Amarson na Islândia, sobre o efeito da pandemia nos adolescentes portugueses, integrado no projeto ‘Sucesso, Mente e Saúde’ (SMS), que visa “promover a saúde mental e remover o estigma social.

O estudo revelou que os 206 jovens portugueses inquiridos apresentavam sintomas de “tristeza, irritabilidade, raiva consigo mesmo ou culpa”, mas também físicos, como “tendência à má alimentação e ao ganho de peso”.

Esses sintomas depressivos começaram durante a primeira onda e cresceram paralelamente ao aumento das infecções no final do ano passado.

A regulação emocional ou estratégias de mindfulness não impediram os adolescentes de “ter uma emotividade muito mais negativa” porque a socialização é “crucial”, destaca a psicóloga.

Um problema que é particularmente preocupante em um país que em 2018 contabilizava quase 1.000 suicídios, com uma taxa de 9,92 por 100.000 habitantes.

EM UM FUTURO INCERTO, CUIDAR DA SAÚDE MENTAL É UMA OBRIGAÇÃO

“Os portugueses vão ter agora tempos difíceis: haverá pobreza, falta de trabalho e perspectivas, que afectam sempre mais os jovens”, avisa Pedro Caldeira da Silva, director do departamento de psiquiatria infantil do Hospital Dona Estefania e membro da clínica. CADIN.

Uma situação que pode levar a um aumento dos sintomas depressivos ou, pelo contrário, aos portugueses “descobrirem forças que não sabiam que tinham”.

Diante das emoções negativas, “a resiliência pode ser gerada”, concorda Matos.

Para proteger a saúde mental, é fundamental recorrer a estratégias como consultas psicológicas online, programas escolares de autorregulação das emoções, regresso presencial às salas de aula e formação dos pais para uma melhor comunicação com os adolescentes.

“O esporte é absolutamente necessário porque as atividades recreativas diminuíram devido à pandemia, assim como o exercício físico”, algo que aumenta os níveis de tristeza, incentiva a má alimentação e leva à obesidade e culpa, dizem os especialistas.

87% dos adolescentes portugueses passam, em média, 6 horas por dia online, quase todas as atividades decorrem na internet”; pelo que a pintura, a leitura ou o desporto estimulam a criatividade e distraem mais do que os ecrãs.

Vasco Prazedes concorda, e diz que tenta sair o máximo que pode apesar do confinamento para “manter-se vivo”, embora admita com uma gargalhada enquanto corre atrás de uma nova onda, “o futuro, para os jovens, será sempre pior”. EFE

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Joseph Salvage

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