A face oculta do Palácio da Aljafería

o aljafería salvar a história de Aragão. O bom, e também o ruim. Aquele que simboliza a prosperidade e a sabedoria do povo, e aquele que emana das intrigas palacianas e relembra os desastres das guerras. O Palácio da Alegria de AL-Muqtadir é um caldeirão de culturas, foi residência de reis muçulmanos, palácio mudéjar medieval, fortaleza dos reis católicos, quartel… Aragão, uma história que, desde cortes, continua escrevendo agora. Em maio haverá dupla comemoração. A que foi adotada em 20 de maio de 1983, há quarenta anos, para ali instalar a sede do Parlamento aragonês, e os 25 anos que se passaram desde que reabriu suas portas tonalmente recuperado para mostrar ao mundo todo o seu esplendor. Mais de 245.000 turistas passaram pelo monumento civil mais visitado da Comunidade em 2022, uma das joias do mudéjar aragonês, onde a história e o parlamentarismo andam de mãos dadas.

Salas espetaculares do palácio permanecem fechadas ao público por motivos de segurança e conservação; lugares que HERALDO percorre nesta reportagem acompanhando o primeiro presidente do Parlamento, Antonio Embid, aquele que decidiu junto com o prefeito de SaragoçaRamón Sainz de Varanda, que o palácio seria a sede do Parlamento, e o atual presidente, Javier Sada, que prevê intensificar a sua promoção em 2023 e reforçar os passos dados para aproximar esta instituição dos cidadãos.

Depois de assumir o cargo de primeiro presidente das Cortes modernas em 20 de maio de 1983, Antonio Embid foi à Aljafería com o então prefeito de Zaragoza Ramón Sainz de Varanda e visitaram um palácio que estava “em ruínas”. Na área onde se instalaria o Parlamento, “faltou apenas o contraventamento das paredes”aponta.

O castelo e os seus terrenos adjacentes, com uma área de 56.151 metros quadrados, pertenciam então à Câmara Municipal, que o comprou às Forças Armadas através de ‘quartéis de operação’. A comissão de estudo para escolher o local também optou pela Aljafería e em março de 1985 a Câmara Municipal aprovou definitivamente a transferência de uso para as Cortes por 99 anos. O Consistório assumiu as obras de descarga, saneamento, abastecimento de água, jardinagem e vigilância exterior. O Parlamento teve de cobrir as despesas de conservação e manutenção e remodelação da capela de San Martín.

Antonio Embid lembra como, ao escavar na capela de San Martín, veio à luz um cemitério em Los Sitios de Zaragoza. “Eu fiquei muito impressionado. Havia uma mulher com um feto, soldados franceses em seus uniformes, fuzis com baionetas“, detalhes.

denúncia criminal

Um primeiro projeto de reabilitação acabou por excluí-la. Entre suas propostas estava a de localizar a secretaria e o gabinete do presidente das Cortes nas salas dos degraus perdidos do palácio dos Reis Católicos. “Aquilo foi uma verdadeira loucura. Tive que descartar e procurar outros arquitetos”, explica Antonio Embid, cuja decisão gerou uma denúncia criminal. Ele contratou o então advogado, aquele tristemente assassinado por ETA Manuel Giménez Abad, que tentou chegar a um acordo. Ele fez isso. E a história fechou-se, aliás, com a entrada nos cofres das Cortes de cinco milhões de pesetas. Em 1986, as únicas coisas a visitar na Aljafería eram o Salão dos Reis Católicos e o Pátio de los Naranjos. “Mas era preciso moral para chegar lá”, adverte.

Sada e Embid destacam-se pelo brilhante trabalho realizado pelos arquitetos Luis Franco Lahoz e Mariano Pemán Gavín, que adequaram a reabilitação aos usos exigidos pelo Parlamento, mas respeitando as áreas já recuperadas na zona monumental. A parede é visível junto às escadas que dão acesso à zona da Presidência. Na torre, o presidente da Governo de Aragãoque ele poderia acessar, diz Embid, sem que ninguém o visse. No piso inferior encontra-se uma sala de reuniões. Embora se o acordo fosse urgente, “todos os escritórios foram usados ​​para negociar”admite Sada.

Em 20 de maio de 1987, foi inaugurada a nova sede do Parlamento de Aragão na Aljafería, nos últimos compassos da I Legislatura, na qual foi construída a arquitetura institucional que ainda hoje vigora. Desde então, têm-se realizado sessões plenárias no atual hemiciclo, cujo acesso é permitido, por decisão do Sada desta X Legislatura, a qualquer turista que visite as Cortes (com algumas restrições caso haja sessões plenárias). Avança-se, e cada vez mais, na incorporação de novas tecnologias. Embora os tribunais tenham sido pioneiros. Embid, que assumiu a presidência com 31 anos e 8 dias, explica que na primeira legislatura o boletim e a sessão diária eram feitos por computador, graças ao esforço de Luís Granel. E também foi utilizado um sistema pioneiro de gravações de vídeo que atualmente está sendo digitalizado.

Da ala política do palácio caminhamos até à zona histórica, onde nos espera a imponente Torre del Trovador. No caminho, notamos uma placa que comemora a presença de Felipe VI na Aljafería. Em 1986 recebeu a Medalha dos Tribunais na Sala do Trono, assistiu ao lançamento da primeira pedra das obras de reabilitação e, em maio de 1998, à inauguração.

A Torre do Trovador

Sem chegar, longe disso, aos 3.000 euros por dia para a Fontana di Trevi, eles costumam visitantes da Aljafería para jogar moedas no impressionante poço da Torre del Trovador. É tão profundo quanto a altura do edifício. Sempre tem água e, em época de enchente, mais ainda. E você pode descer escadas quase até o fundo. Nas paredes das torres existem 1.500 inscrições. Algumas são precisas e diretas: “Homem de Huesca. Estou aqui para matar. 1864″.

Não é sempre que um Parlamento autônomo é enclausurado em um castelo. Sada explica que é mais comum encontrá-los em hospitais antigos. No caso da Aljafería, e tendo em conta que o simples funcionamento do Parlamento exige um custo de manutenção, é uma vantagem. “Na verdade, a única despesa extra seria com os guias turísticos, e é praticamente coberta pela venda de ingressos”detalhes.

Na Sala do Trono, os Reis receberam as queixas e súplicas das mais ilustres personalidades do Reino. Embora não haja evidências confiáveis ​​disso e quase por exclusão, aceita-se que foi na Aljafería onde se tomou a decisão de dar a volta ao mundo para Magalhães e Elcano. Se o quarto é espetacular, as vistas do ‘matrônio’, que os turistas não acessam por questões de segurança, não têm preço. Da galeria superior, à qual só se acede dois a dois, avista-se o tecto mudéjar em caixotões no seu máximo esplendorde onde pendem cachos de uvas e os emblemas dos Reis Católicos, com o jugo de Fernando e as cinco flechas de Isabel, com a legenda “Tanto monta”.

Junto à Sala do Trono encontra-se o quarto onde nasceu em 1270 Isabel de Portugal, neta de Jaime I, o Conquistador, que, ao ser proclamada santa, deu o seu nome ao pátio das laranjeiras.

E nessa ligação entre história e parlamentarismo voltamos à ala política onde, na zona alta do muro, se cumprimentam. Sada destaca a visão privilegiada dali das recriações históricas que estão representadas. O presidente das Cortes reflete sobre os momentos de angústia que se têm vivido no castelo. Ele destaca entre os mais dolorosos, a entrada no palácio do caixão de Manuel Giménez Abad, após ser assassinado pelo ETA. Do passado recente, ele se declara chocado com a solidão do pandemiaa que ia diariamente com uma sandes, no esforço para que os Tribunais não fechassem “nem um só dia”.

Ele anda na ponta dos pés no presente e reconhece que um Congresso “bruto” não beneficia ninguém. E ele está aliviado porque a sanidade prevalece nas Cortes, pelo menos por enquanto. “Eles facilitaram para mim”, agradece, porque ainda é possível o consenso. Embora tenha havido alguns capítulos negros no passado, sublinha Embid, que se refere à moção de censura.

Sada olha para o futuro e para o avanço da Inteligência Artificial e alerta para a prevenção que o Parlamento deve ters. É assustador reconhecer o poder de quem gerencia os algoritmos. Ele vai refletir sobre o futuro na mesma mesa que Embid comprou em Loscertales há 40 anos para escrever as primeiras leis do Parlamento.

Calvin Clayton

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