Currículo – A Razão | Notícias da Bolívia e do mundo

Como resultado das últimas determinações do Ministério da Educação da Bolívia, um tema estará em voga no próximo ano: “currículo”. Referimo-nos especificamente ao “Currículo Atualizado do Sistema Educacional Plurinacional” que, segundo disposições oficiais, será implementado a partir da gestão 2023. Você verá, as questões relacionadas ao currículo serão objeto de debate público. É bom que assim seja, desde que haja opiniões baseadas em análises sistemáticas, argumentos bem apresentados e propostas factíveis. É de se esperar que o currículo não se reduza a adesões e rejeições “automaticamente” e por pura atitude reativa.

O tema dá margem a reflexões amplas e profundas, dele participo com alguns primeiros temas que visam contribuir para a compreensão do que estamos falando.

Para começar, como apontam Abraham Magendzo (1987) e outros estudiosos, o currículo é o “resultado de um processo de seleção e organização da cultura”. Se a cultura é basicamente qualquer expressão da atividade humana, quando o currículo é formulado, são tomadas decisões sobre quais expressões são prioritárias. Portanto, a seleção da cultura não é um processo aleatório e neutro, mas intencional, que compromete uma visão de educação, de ser humano e de sociedade. Supõe “um processo de busca, negociação, avaliação, crescimento e confronto entre a cultura universal e a cultura da vida cotidiana… entre a cultura da dominação e a cultura dominada” (Magendzo, 2019). O currículo, sendo uma seleção de cultura, é o posicionamento diante dos problemas que afligem nossa sociedade no presente e que, possivelmente, se agravarão ainda mais no futuro, traduz-se no dilema: adaptar ou transformar a realidade? A resposta a esse dilema, é claro, dará sentido ao currículo.

Por outro lado, o currículo deve ser entendido a partir de sua abordagem integral-holística. Em princípio, o currículo vincula a política educacional à prática educacional; as determinações dos documentos normativos-constitutivos, a concepção de educação e o modelo educacional com os processos que ocorrem nas unidades educacionais e na sala de aula; assim como pedagogia com didática. O currículo não é um fim em si mesmo, responde a uma concepção de educação, de ser humano e de sociedade. Os educadores, além de criadores e implementadores do currículo, são fundamentalmente pedagogos. Da mesma forma, os componentes do currículo (principalmente: objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação) devem ter harmonia em suas abordagens, por exemplo, se a metodologia for ativa e participativa, a avaliação não pode ser um processo passivo que apenas envolve os alunos na tomada de decisões. Portanto, não basta discutir conteúdos ou tópicos, é preciso analisar a coerência com a orientação e características do restante dos componentes.

A abordagem abrangente e holística do currículo também nos lembra que o sucesso ou o fracasso do currículo está direta e reciprocamente ligado a outros elementos que lhe são complementares. Caso não exista, entre outros aspectos: uma boa leitura da situação da realidade atual e futura, bem como da lógica da construção do conhecimento; uma definição clara da concepção de educação, ser humano e sociedade; o acompanhamento e contribuição nos processos formativos das famílias e demais membros da comunidade educativa; coerência com as normas constitutivas e planos de desenvolvimento; valorização da identidade cultural e compreensão das condições da população; professores devidamente capacitados e comprometidos com as mudanças; o desenho e desenvolvimento do currículo —mesmo que sejam bem escritos— no final das contas, não melhorará a aprendizagem. Assim, embora devamos cuidar do desenho e desenvolvimento do currículo, simultaneamente devemos estar atentos aos demais elementos, priorizando a formação e atuação dos professores, pois, do ponto de vista metodológico, são atores fundamentais para o currículo. transformação.

Por fim, assumindo que as mudanças devem acompanhar as transformações que estão ocorrendo na realidade, o currículo deve ser ajustado em um prazo máximo de cinco anos. Por estas razões, desde já, deveria ser constituída uma comissão para antecipar futuros ajustamentos curriculares, neste caso, não só para atualizar mas para transformar o currículo.

Noel Aguirre Ledezma é educador e pedagogo popular. Foi Ministro do Planeamento do Desenvolvimento e Vice-Ministro da Educação Alternativa e Especial.

Raven Carlson

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