Estado de saúde dos Yanomami continua “preocupante”, diz ministro brasileiro

Trabalhadores do saneamento transportam um indígena Yanomami em Alto Alegre, no estado brasileiro de Roraima, em 29 de abril de 2023.

Mais de quatro meses após a declaração de estado de emergência sanitária na reserva indígena Yanomami, no Brasil, a situação “melhorou”, mas “continua preocupante”, disse à AFP a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

“Houve melhorias, incluindo uma queda nos casos de desnutrição. Mas a situação continua preocupante. Ainda temos um grande número de casos de malária, mais de 6.700 este ano, incluindo oito mortes”, explicou em entrevista por telefone.

O estado de emergência sanitária foi declarado em 21 de janeiro, três semanas após a posse do governo de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva, que sucedeu o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

No processo, havia sido aberta uma investigação por “genocídio”, após a divulgação de dados oficiais que relatam a morte em 2022 de cem crianças menores de cinco anos na maior reserva do país, onde vivem cerca de 30.400 indígenas, em o estado de Roraima (norte).

As imagens de crianças com corpos esqueléticos chocaram o mundo inteiro.

Tão extenso quanto Portugal, o território dos Yanomami vive há anos uma situação crítica, devido às invasões de garimpeiros.

Os indígenas os acusam de estuprar e assassinar membros de sua comunidade, além de privá-los de um de seus principais meios de subsistência, a pesca, ao contaminar os rios com mercúrio.

O governo Lula enviou o exército para expulsar os garimpeiros em fevereiro, mas muitos garimpos ilegais continuam operando na reserva.

O hospital de campanha instalado em janeiro pela Aeronáutica em Boa Vista, capital de Roraima, para reforçar o atendimento aos indígenas, continua funcionando.

Em abril, foi inaugurado um posto de saúde no município de Sururucu, dentro da reserva. Segundo o Ministério da Saúde, 91 crianças desnutridas foram curadas após serem atendidas no local.

“Devemos lembrar que essa situação de emergência se deve ao fato dessa população ter sido negligenciada, privada dos cuidados mais básicos” no governo Bolsonaro, disse Trindade.

Na semana passada, o ministro esteve em Genebra, onde a Organização Mundial da Saúde (OMS) endossou uma resolução apresentada pelo Brasil que torna a saúde dos povos indígenas uma prioridade global.

“A aprovação dessa resolução é importante, porque é um reconhecimento de que os indígenas precisam de uma atenção especial, (…) adaptada às suas características culturais”, afirmou.

“Em muitos países, como o Brasil, os indicadores de saúde são piores entre os indígenas, principalmente em termos de mortalidade infantil ou expectativa de vida”, acrescentou o ministro.

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Joseph Salvage

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