A Comissão Europeia estima que 17 países ultrapassarão o limite de gastos públicos fixado pela UE este ano devido ao impacto da guerra
A Comissão Europeia vai propor a prorrogação por mais um ano da suspensão das regras fiscais que vigoravam para todo o território comunitário até ao início da crise do coronavírus. Em uma economia sufocada pela guerra na Ucrânia, inflação alta e sob a ameaça de cortes no fornecimento de gás por Moscou, Bruxelas está empenhada em manter a flexibilidade nos gastos públicos dos Estados membros. Desta forma, o déficit público dos países europeus pode ultrapassar 3% do PIB em 2023 -esta era a regra histórica- e não devem reduzir sua dívida pública a 60% -outro dos limites impostos pela UE- aos parceiros.
Esta extensão da cláusula de escape -como são chamadas essas limitações- é uma medida vital para a Espanha, que realizará eleições gerais em 2023. Segundo estimativas de Bruxelas, a dívida pública espanhola será de 115,1% do PIB este ano e 113,7% em 2023, sendo o país com o terceiro maior défice, atrás apenas da Grécia e de Portugal. Apesar de a UE prever uma redução da dívida dos estados membros nos próximos dois anos, 17 países ultrapassarão o limite de 3% este ano antes de reduzir para 11 no próximo ano.
Perante esta situação, o Executivo Comunitário propôs a manutenção da cláusula de escape no seu pacote de medidas para o próximo semestre por mais um ano, como anunciou quinta-feira o jornal económico ‘Financial Times’. A prorrogação deste mecanismo, suspenso desde o início da pandemia, foi uma exigência que vários Estados já tinham levantado e deve ser ratificada na próxima segunda-feira pelos ministros da Economia e Finanças da UE, na reunião do Ecofin, antes de ser formalmente adoptada.
A ideia é que as regras fiscais (déficit de 3% e dívida de 60%) sejam mais flexíveis para o futuro
A medida não desperta o entusiasmo de todos os membros do clube comunitário. Enquanto Grécia, Itália, Portugal, Espanha, França e Bélgica serão os principais beneficiários da extensão da cláusula -por serem os Estados mais endividados-, organizações como o Banco Central Europeu (BCE) alertaram para a necessidade de aumentar taxas em julho em face da inflação descontrolada. Por sua vez, o Federal Reserve dos EUA (FED) e o Banco da Inglaterra já adotaram medidas nesse sentido.
E agora, tudo indica que Bruxelas vai certificar que dará mais um ano de margem aos países europeus para reduzirem a sua dívida pública, depois de rever em baixa as previsões económicas para a região. As últimas estimativas sugerem que a economia vai desacelerar nos próximos dois anos na Europa como resultado da invasão russa da Ucrânia e que crescerá apenas 2,7% este ano e 2,3% em 2023. O preço da energia foi revisto para cima e a Comissão assume que continuará a aumentar, pesando a actividade e o consumo.
Pacto de Estabilidade
O impacto do conflito armado não será distribuído da mesma forma entre os Estados-Membros. Os países do Leste serão os que mais sofrerão, com menor atividade econômica e inflação mais alta, sendo muito mais dependentes de energia falando da Rússia. No caso da Espanha, a Comissão Europeia está otimista e calcula um crescimento de 4% este ano, graças ao impulso do turismo.
A prorrogação da cláusula de escape também dá mais espaço ao debate sobre a reforma do Pacto de Estabilidade e Crescimento, em análise desde o início da pandemia. Espanha e Holanda tentaram dar um novo impulso à modificação do documento no início de abril com uma proposta conjunta para facilitar o equilíbrio das contas públicas. A ideia é que as regras fiscais se adaptem às circunstâncias de cada Estado, deixando espaço para o crescimento econômico, investimentos públicos e reformas.
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